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Foto do escritorCaroline Prado

A Onda de Independência - Por que a América Latina se dividiu e o Brasil se manteve unido?

Atualizado: 5 de out. de 2022

Você sabia que basicamente toda a América Latina sofreu o processo de independência no mesmo período? Inclusive, que uma parte desses países tem apenas um ou dois anos de diferença em relação ao processo de independência no Brasil?


Mapa ilustrado com Brasil separado da América Espanhola, com faixas cortando o território.

Agora, vamos falar sobre a relação entre os países nesse processo tão importante, se não o mais, da história latina.


Colonização Espanhola versus Colonização Portuguesa


Mapa com as datas de independência dos países latino-americanos.

Como vemos na imagem, um dos países que proclamou sua independência um ano antes do Brasil, exatamente no dia 15 de setembro de 1821, foi a Costa Rica, na América Central. O pequeno país, com menos de 6 milhões de habitantes, foi um dos que participaram desse processo, porém eles proclamaram a independência da coroa espanhola. Nessa época, os criollos, filhos e descendentes dos espanhóis nascidos nessa parte da América, lutaram por sua independência porque, mesmo tendo tantos bens e dinheiro, não tinham a mesma posição perante a sociedade espanhola que os nobres espanhóis. Esse foi um dos motivos.


Um ano depois desse movimento, o Brasil completa seu processo de independência, com o jovem Dom Pedro I liderando o movimento independentista, contrariando o que seu pai e seu país de origem queriam (como falamos em nosso artigo "Resgatando a história: 7 de Setembro".


Por que o Brasil se manteve unido e a América Latina se separou nesse processo?


O Brasil, com seu tamanho continental, esperava-se que sofresse um grande processo separatista, assim como aconteceu na outra parte da América. Mas não foi dessa maneira. Por quê?


O Brasil teve, durante um período, o rei de Portugal vivendo em seu território, já que o mesmo fugiu do seu país devido às invasões napoleônicas. Claro, ele fugiu com sua corte, mais ou menos 15 mil pessoas, para sua colônia mais próspera. O rei Dom João VI criou seu filho Pedro no Brasil, e o grande amor de Pedro pelo país resultou em sua independência. Mas, apesar da rebeldia que incitou esse processo, a elite luso-brasileira era muito cuidadosa em seus passos. No período pós independência essa questão de manter a ordem social perante os escravos era um tema muito discutido.


Nessa época do movimento independentista, existiam mais negros escravizados no Brasil do que nobres ou trabalhadores com renda. O medo que os nobres tinham era de que os escravos se rebelassem, assim como aconteceu no Haiti - já que os negros haitianos proclamaram sua independência. E esse medo era maior do que sua vontade de se rebelar contra a coroa, ou de se rebelar contra qualquer outra coisa. Eles queriam manter seu status quo. Além do medo de rebelião interna e a presença de um monarca no país, a Igreja tinha seu poder centralizado no arcebispado na Bahia, assim fortalecendo a união do país.


Mapa do Brasil em preto, com uma ilustração representando a igreja católica em relevo.

O país também era dividido em capitanias gerais, sendo que as principais estavam em cidades costeiras, como o Recife, Salvador e o Rio de Janeiro, por causas de seus portos. No Brasil não existiam universidades, quem podia estudar, ia para Coimbra, dessa maneira criando um laço com o país colonizador. O fato de o Brasil ter um poder maior, o rei, a união da população e a Igreja para um bem comum, foram alguns dos motivos que mantiveram o país unido. Para o Brasil, de uma maneira geral, era melhor que se mantivesse em um único território.

Já as colônias espanholas tinham inúmeros motivos para não se manterem unidas.

Primeiramente, as colônias eram proibidas de praticarem o comércio entre si, ou seja, não mantinham nenhum laço que as aproximassem. Além de seu território ser muito extenso, "quebrado", as colônias tinham cinco arcebispados; assim todos queriam ter o comando nas regiões conforme o que achavam melhor: isso não facilitava a união das pequenas capitanias.


Ainda havia o fato de existirem algumas universidades nas colônias espanholas, como a Universidade do Peru. Ou seja, os criollos desenvolviam seu pensamento crítico e intelectual dentro de seu próprio território. Nas terras espanholas, os peninsulares, pessoas nascidas na Espanha, ocupavam os cargos de mais prestígio, ou seja, os cargos públicos. Já os criollos, apesar de terem muitas posses, estavam perdendo espaço no poder local. Dessa forma, os nascidos em terras latino-americanas organizaram o movimento de independência.


Um mapa da américa latina com as bandeiras dos países como relevo dos territórios.

Ambas as colônias estavam sob o poder das coroas europeias já citadas: o lado espanhol do continente estava com a dinastia Bourbon e o lado português estava com a dinastia Bragança. Ambas também eram muito exploradas e tinham as suas riquezas levadas para os países europeus. Mas o ponto crucial dessa história é que Dom João VI, quando foi para o Brasil fugindo de Napoleão Bonaparte, fez o que nunca outro monarca tinha feito: Foi viver em uma colônia, trazendo consigo órgãos públicos importantes de Portugal para o Rio de Janeiro, como os arquivos da monarquia e a biblioteca.

Assim, por todas as questões vistas e, mais que isso, o desejo de manter uma ordem social baseada em uma monarquia unificada, afim da manutenção do poder em uma pequena elite luso-brasileira, o Brasil manteve a união de seu território, apesar de algumas revoltas internas que almejavam o separatismo em algumas capitanias.



Texto escrito por Caroline Prado

Professora de Cultura Brasileira e Português para Estrangeiros, internacionalista, estudante de Filologia e Línguas Latinas, Embaixadora do Projeto Libertas Brasil na Costa Rica, apaixonada por plantas, livros e fontes confiáveis.

 

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