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Foto do escritorIvo Mendes

As consequências do bolsonarismo

Atualizado: 4 de mar. de 2023



Brasil, 08 de janeiro de 2023. Dia em que a democracia foi atacada brutalmente, numa tentativa absurda de golpe de estado. Pessoas com símbolos da bandeira nacional nas costas, movidos por ódio e alimentados por fake news, invadiram a sede dos três poderes e depredaram tudo que viam pela frente, rasgando obras de arte, batendo em animais, tocando fogo e demonstrando total desprezo pelas instituições brasileiras e pela democracia.


Mas se engana quem pensa que este ato nasceu da noite pro dia. O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro em seus discursos dizia que não aceitaria o resultado das eleições. Porém para entender melhor, vamos voltar a outubro de 2018, ano em que a disputa pela eleição presidencial foi vencida por Jair Bolsonaro, que foi deputado federal por 28 anos e conseguiu ser eleito com discurso de novidade, pautas de costumes e tom pra lá de agressivo e preconceituoso no que diz respeito às diferenças.


Infelizmente os discursos de ódio prosseguiram ao longo de seu mandato, que foi marcado por polêmicas, agressão a imprensa por parte de seus apoiadores, intolerância religiosa, discursos contra a proteção dos povos indígenas, proteção do meio ambiente, a favor dos garimpos ilegais, contra a comunidade LGBTQIA+ e por aí vai.


A cada discurso que o agora ex-presidente fazia, as agressões à imprensa, as instituições, se faziam presentes. Tais discursos eram carregados de fake news, que fortaleciam ainda mais as alas radicais, dando munição e alimentando o ódio dessas pessoas. Seu mandato foi avançando e nada de abrandar o discurso.


Grupos criados em mídias sociais foram mantidos e ampliados durante o mandato do agora ex-presidente e esses grupos eram alimentados com informações muitas vezes falsas, que infelizmente boa parte dessas pessoas tomava como absoluta verdade e não ouviam mais ninguém, se afastando de suas famílias, alguns até saindo de seus empregos para viver sabe-se lá como nos acampamentos golpistas, o ódio e a revolta dessas pessoas sendo alimentado diariamente, fazendo-as a defender aquilo que a democracia mais abomina, a ditadura com intervenção militar.


O efeito manada e a psicologia das multidões



O efeito manada é uma das explicações mais coesas para explicar todos esses atos citados. Segundo especialistas, o efeito manada é um poderoso fenômeno psicológico que é impulsionado por uma série de pessoas influentes. Acaba sendo de certa maneira, uma forma de influência social, pois como vemos na invasão de Brasília por bolsonaristas, o efeito manada começou antes, essas pessoas sendo alimentadas pelas mídias sociais com fake news, teorias da conspiração, que culminaram na criação de uma realidade paralela.


As pessoas que depredaram Brasília pareciam não ter a mínima noção das leis, mas como não são pacientes psiquiátricos, podem e devem pagar com o rigor da lei. O efeito manada foi o responsável por levar as pessoas lá, mas para explicar esse comportamento, podemos pensar na psicologia das multidões, termo criado pelo escritor francês Gustave Le Bon. Para ele, numa aglomeração de pessoas some a individualidade e surge o pensamento coletivo incontrolável. A intenção era criar o caos, mais a maioria dos que praticavam as barbaridades jamais faria o que fizeram se estivesse sozinhas.


Tentativa de Golpe


A tentativa frustrada de golpe mostrou que o bolsonarismo chegou no ápice de suas ações desde sua existência, a invasão da sede dos 3 poderes, para criar o caos e assim provocar que as forças armadas tomassem o poder, contando com a possível anuência de autoridades, deputados, alto escalão do governo do DF, chefes de polícia, secretário de segurança pública do DF e demais funcionários da segurança pública.


Mas esse é apenas o começo do fio da meada. Na casa de um dos detidos, o ex-secretário de segurança e ex-ministro da justiça do governo Bolsonaro, foi localizada uma minuta de golpe e neste documento previa-se a intervenção no TSE para afastar o presidente do órgão e invalidar o resultado das eleições.


Essa tentativa de golpe é fruto de uma sistemática e articulada ação de políticos e empresários que antes mesmo do resultado já tramavam a possibilidade de um golpe. O próprio ex-presidente Bolsonaro, que foi eleito todas as vezes por urnas eletrônicas, por diversas vezes colocou o sistema eleitoral em cheque, inclusive usando as forças armadas, uma instituição de estado que não deveria estar envolvida em política, para auxiliá-lo na tentativa de fazer pressão sobre o sistema eleitoral sem nenhuma prova de fraude.


O não reconhecimento do resultado das eleições foi estratégico, rasgaram a constituição e feriram a democracia brasileira a fim de se manter no poder e garantir as benesses de se estar no poder, além de esconder possíveis crimes ocorridos durante o mandato do ex-presidente.


Apesar de depredar, destruir obras de arte pertencentes ao estado brasileiro, roubar armas, documentos e entre outras coisas, essas pessoas passaram horas sem serem interrompidos por policiais que deveriam estar protegendo o patrimônio público, o que fortalece ainda mais as graves suspeitas de envolvimento de gente poderosa, agentes públicos e empresários que financiaram essa tentativa de golpe. Aliás vale lembrar que essas pessoas não foram sozinhas para brasília, foi tudo meticulosamente financiado, centenas de ônibus foram fretados para brasília, em grupos de milícias digitais era oferecido dinheiro e vagas em ônibus para ida a brasília.


Consequências



As pessoas adeptas ao bolsonarismo radical, que promoveram todos aqueles crimes em Brasília, são pessoas que já tinham predisposição a cometer esses atos, o que lhes faltava era coragem, financiamento e incentivo, tiveram tudo isso e fizeram toda a devassa na sede dos 3 poderes na tentativa de golpe.


O que nos leva a entender é que essas pessoas pareciam ainda não ter compreendido o quão grave foi o ato que cometeram, filmavam, davam risada, brincavam, até que as consequências começaram a ocorrer já no mesmo dia dos atos criminosos. Quando eles recebiam a notícia de seus advogados, choravam e muitos que criticavam os direitos humanos reclamavam das condições das celas, quanta ironia da vida.


À noite centenas de pessoas já haviam sido presas e o presidente da república decretou intervenção federal na segurança de Brasília, retirando o comando da segurança pública das mãos do governo do distrito federal, nomeando o interventor Ricardo Capelli, já que haviam sérios indícios de conivência de membros do alto escalão da segurança do DF e agentes públicos.


O STF também agiu e determinou a prisão de todos os envolvidos nos atos e a retirada em todo o país dos acampamentos golpistas. O governador do distrito federal, Ibaneis Rocha, que pediu desculpas ao presidente Lula num ato de praticamente reconhecimento de sua omissão, foi afastado do cargo por 90 dias sobre suspeita de omissão entre outros crimes a serem investigados.


A procuradoria abriu investigação contra policiais por possível omissão, o ex-secretário de segurança do DF e ex-ministro do governo Bolsonaro Anderson Torres teve sua prisão decretada com mandado de busca e apreensão em sua residência. O ex-comandante da PM também foi preso, o ministério público militar abriu uma apuração preliminar já que houve a participação de militares nos atos golpistas e também foram abertos inquéritos contra deputados por incitação aos atos.


A PGR solicitou o bloqueio de 20 milhões em bens contra as pessoas e empresas envolvidas, mais de 653 pessoas foram denunciadas, a operação lesa pátria prendeu e continua a prender policiais e pessoas envolvidas na tentativa frustrada de golpe e o ex presidente Bolsonaro foi incluso nas investigações que investigam os atos antidemocráticos.


Vale lembrar que o ex-presidente saiu do País em direção aos EUA e quebrou a tradição respeitosa de um presidente passar a faixa ao próximo. Um mês após os atos, mais de 900 pessoas continuam presas, 7 inquéritos foram abertos pela PGR, e parece que esse processo não terá fim tão cedo, há muito o que investigar, e o que esperamos enquanto sociedade é que todos sejam punidos firmemente e que não haja anistia para os envolvidos nesse grave atentado à democracia brasileira. Felizmente a democracia ficou de pé, mesmo que abalada, e agora caberá ao País reafirma-la.



Texto escrito por Ivo Mendes

É ativista e militante há mais de 12 anos em pautas antirracistas e no combate às desigualdades sociais no Brasil. Retirou o medo do seu vocabulário, por isso é um sonhador por essência e entusiasta por sobrevivência. Formado em Gestão da Tecnologia da Informação, passou pela vida política da Baixada Santista e atualmente trabalha na área administrativa e integra a equipe de colunistas do Zero Águia.

 

Fontes


https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2023/02/07/pf-quinta-fase-operaca o-lesa-patria-atos-golpistas.htm?cmpid=copiaecola


https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2023/01/09/bolsonaro-promet eu-que-invasao-aqui-seria-pior-que-a-dos-eua-e-cumpriu.htm



https://www.rfi.fr/br/brasil/20230109-invas%C3%A3o-em-bras%C3%ADlia-queima-d efinitivamente-biografia-de-bolsonaro-diz-historiadora-francesa


https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2023-02/apos-um-mes-investigacoes -buscam-financiadores-de-ataques-golpistas/



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