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Foto do escritorEditorial Portal Águia

De Mujica a Orsi: Continuidade e Desafios na Política Uruguaia

No domingo 24 de novembro aconteceram as eleições presidenciais no país vizinho,  Uruguai. Os principais institutos de pesquisa do país emitiram as suas projeções de contagem de votos às 20:30 da noite com base nos primeiros votos obtidos nos circuitos que foram escolhidos para suas amostras. A fórmula formada por Yamandú Orsi e Carolina Cosse, da Frente Amplo, foi a vencedora após o segundo turno das eleições nacionais, instância conhecida como segundo turno.


Homem branco com o rosto pintado fazendo alusão à bandeira do Uruguai
Fonte: BBC News

Orsi, conseguiu vencer o Partido Nacional, formado por Álvaro Delgado e Valéria Ripoll. Durante a campanha, Yamandú prometeu uma política de “esquerda moderna” e garantiu que não está planejando uma mudança repentina de política, já que o país tem a característica de ser tradicionalmente moderado.


O novo presidente vem de uma das duas grandes coalizões que dominam a política uruguaia, a Frente Amplo. A Frente é integrada há mais de 50 anos por partidos de esquerda e hoje tem o ex-presidente José Pepe Mujica como referente político. Em seu discurso, Orsi afirmou que:


“Vai ser o presidente que apela continuamente ao diálogo nacional para encontrar as melhores soluções. Claro, com as nossas ideias, mas também ouvindo bem o que os outros nos dizem”.

Ele busca


“construir uma sociedade mais integrada…” (...) “ninguém poderá ficar para trás do ponto de vista econômico, social e político”.

Mojica em primeiro plano, com microfone na mão e Yamandú observando o conselheiro falar com a mão no queixo
Fonte: UOL Notícias

Suas palavras descrevem perfeitamente o cenário político do país. O cenário político uruguaio, ao contrário de outros países da América Latina, como Brasil ou Argentina, não é marcado por uma notória divisão entre direita e esquerda, ou seja, a polarização que pode-se encontrar nos países mencionados não existe no “paisito” como falam no Uruguai. De forma simples, o ambiente que se respira no Uruguai é caracterizado por uma prevalência de relativa calma e ausência de tensão política e social. Mas essa calma e ausência de tensão não se percebe na economia doméstica, ou seja, nos gastos que cada cidadão tem no dia a dia.


No entanto, o que o Uruguai compartilha com outras nações da região é a preocupação com o elevado custo de vida, a desigualdade e a criminalidade, embora a inflação tenha diminuído recentemente. Essa preocupação pode ser vista na forma como o país é chamado, com muitos referindo-se ao Uruguai como a Suécia da América Latina. Mas por que é tão caro viver nesse país? Para responder a essa pergunta, é preciso considerar vários pontos.


Letreiro de Montevideo com a praia e a cidade ao fundo
Fonte: Viagens e caminhos

Por um lado, de acordo com dados recolhidos pelo Banco Mundial, os preços de cerca de 600 produtos no Uruguai, em comparação com outros 43 países, eram em média 27% mais caros no país sul-americano. Incrivelmente, países europeus desenvolvidos como França, Alemanha e Reino Unido apresentaram preços inferiores aos pagos em Montevidéu. Comparando exclusivamente com a região latino-americana, os produtos no Uruguai custam mais que o dobro dos da Bolívia, 80% mais que no México e 20% mais que no Brasil e Argentina.


O custo elevado tem uma razão clara: o Uruguai padece a falta de concorrência e os setores regulados pelo Estado têm alguns problemas. O efeito país, ou seja, as condições que fazem que o país seja mais caro, é porque praticamente não há produção nacional e os produtos devem ser importados. Além disso,  o mercado em geral é pequeno e fica concentrado em poucas empresas. É importante lembrar que no país vivem 3,5 milhões de pessoas e, devido à falta de uma concorrência maior, o lucro que as empresas colocam nos produtos é bem maior, representando até dez vezes o valor inicial.


Por outro lado, ao falar do aspecto econômico não podemos deixar de considerar o sistema tributário e os altos custos da energia. O sistema tributário é baseado em impostos diretos sobre o consumo e não tanto em impostos sobre as pessoas. Um exemplo disso é o combustível. O Uruguai tem o litro de gasolina mais caro da América Latina e quase metade do preço são impostos.



Em relação ao diesel, ele também é caro, porque um percentual do preço do litro é destinado ao subsídio ao transporte público, que depois é transferido para os custos de transporte e distribuição de qualquer produto. E não é só isso, acontece também com a eletricidade. As taxas estão entre as mais altas do mundo, devido aos investimentos feitos nos últimos anos para aumentar a produção de energia a partir de fontes renováveis.


Diversas notas e moedas uruguaia
Fonte: Quero viajar

Por último, em relação ao aspecto político e sua estabilidade, o Uruguai foi capaz de manter políticas de longo prazo e certa estabilidade econômica. Mas não podemos  deixar de mencionar alguns dados pontuais. A pobreza está acima dos 8,8% do período anterior à pandemia e a sociedade também é mais desigual do que há cinco anos, segundo o índice de Gini, que cresceu de 0,383 em 2019 para 0,394 em 2023.


É importante que a manifestação de vontade política de uma mudança, feita pelas pessoas no último domingo do mês de novembro, seja acompanhada por políticas que permitam reconstruir aspectos vitais de uma sociedade, especialmente nos valores gerais de cada produto que integram a economia de cada lar e na desigualdade social que se evidenciou de forma clara.


A ausência de tensão no nível político e falta de polarização na área têm que ir junto com a estabilidade econômica no nível doméstico, ou seja, com preços coerentes com os salários e o nível de vida e qualidade de vida que o Uruguai transmite ao mundo.



Editorial Portal Águia





Revisão por Eliane Gomes

Edição por Felipe Bonsanto

 

Fontes:







 

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