Contar o número de habitantes é uma prática bastante antiga, que era conduzida com diferentes perspectivas. Por exemplo, em períodos de conflitos e guerras é importante saber quantos habitantes se encaixam no perfil de soldados e estão aptos a serem treinados. Além dessa contagem mais estática, pode-se verificar o movimento da população dentro do território, em razão da descoberta de riquezas naturais e como controlar a extração destas, como quando houve ciclo do ouro e o adensamento da população na região de Minas Gerais.
Oficialmente e em escala nacional, o primeiro censo foi realizado em 1872, ainda no período imperial com o intuito de conhecer melhor a população e o perfil demográfico. Desta forma as informações coletadas permitiram identificar um país com mais homens do que mulheres, predominantemente jovem e com algo em torno de 15% da população representada por escravizados. A construção desse perfil estatístico da população serviu a diferentes propósitos, desde os mais práticos como coletar o número de alfabetizados até outros mais intangíveis, como a construção da identidade nacional, dando cara e corpo a população.
Foi apenas na República que o censo passou a ser previsto de forma regular, a cada dez anos, embora nem sempre tenha sido executado conforme o previsto, dadas questões conjunturais como guerras, crises econômicas e revoluções. A constância, ainda que irregular durante o século XX, da realização do censo permitiu observar-se fenômenos importantes para a compreensão do Brasil e a necessidade de novas metodologias e tecnologias para processar o volume crescente de dados, tanto pela crescente população quanto pelo adensamento do questionário com perguntas mais abrangentes sobre educação, economia, família e sociedade.
Um exemplo importante de transformação observado no período foi a transição da população, antes majoritariamente rural, para os centros urbanos, que ofereciam novas oportunidades e empregos no crescente setor industrial e posteriormente em serviços. Até o censo de 1960, 55% da população brasileira residia em área rural, porém já no levantamento de 1970 há a observação de uma realidade bastante diferente: 56% passaram a residir em áreas urbanas. Tal fato veio acompanhado também da diminuição dos números de analfabetos.
O Censo mais recente: 2010
O último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi no ano de 2010. O mundo era bastante diferente do atual. Acabávamos de enfrentar reflexos da crise econômica e financeira de 2008, smartphones e internet móvel de velocidade eram mais próximos de artigos de luxo, inúmeras carreiras e serviços, como digital influencer nem existiam da forma como atualmente.
Foi neste censo que os dados passaram a apontar um Brasil mais feminino e menos branco, ainda mais urbano do que o de 2000, embora tenha registrado o crescimento da população na região Norte e Centro Oeste. Este é um indicativo da expansão agrícola e do aumento das cidades médias, locais onde ocorre a conjunção entre área mais rural recebendo fluxo de migrantes e o processo de urbanização pela demanda de novos serviços e tecnologias.
O último censo feito pelo governo federal havia sido em 2010 e no intervalo até o que deveria ter ocorrido em 2020 ocorreram coletas de dados com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) e posteriormente da PNAD Contínua, com uma metodologia mais atualizada.
Importância e usos mais recentes dos dados
Os dados colhidos na PNAD Contínua desde o ano de 2016 adotam uma nova metodologia mais adequada para fazer o acompanhamento de dados que precisam ser trabalhados e divulgados em prazos menores a fim de servir como parâmetro para políticas públicas e processos de decisões no setor privado e público. Uma das informações colhidas e que tem feito parte do cotidiano de muitos é a taxa de desemprego e o nível de renda por domicílio.
Ainda na area econômica, acompanhar a evolução das faixas etárias é importante para entender o mercado de trabalho de forma mais ampla. Quantos atingiram idade para fazerem parte da população economicamente ativa (PEA)? Qual o tamanho dessa população e como ela consegue equilibrar o sistema previdenciário? Qualquer proposta de reforma do setor deve necessariamente estar atenta a esse levantamento bem como políticas públicas que aproveitem momentos de "boom" populacional para alavancar a renda média antes do envelhecimento da população.
Além de trazer o retrato socioeconômico do país, saber a população de cada município e as faixas etárias mais comuns é importante para definir a distribuição e o calendário de vacinação contra a Covid-19 e demais campanhas de vacinação. Em suma, todas as informações provenientes dos estudos realizados pelo IBGE são uma importante base para a realização de politicas públicas, já que é possível compreender a ocupação do território e as características de cada região e assim definir o alvo e as necessidades intrínsecas.
Para todos aqueles que amam dados, mapas e infográficos, fica a sugestão de uma visita ao site do IBGE para ver a quantidade de material produzida a partir dos censos e das demais pesquisas.
Texto escrito por João Guilherme Grecco
João Guilherme Grecco é formado em Relações Internacionais e grande entusiasta da carreira diplomática. Estudou para o Concurso de Admissão a Carreira Diplomática (CACD) e atualmente é colunista do Jornal Zero Águia.
Fontes:
Manual do Candidato CACD: Geografia (2012) Bertha Becker
https://censo2010.ibge.gov.br/resultados.html - Consultado em 25-08-2022
https://censos.ibge.gov.br/ - Consultado em 25-08-2022
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