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Foto do escritorCamila Bellato

ODS 5 – Igualdade de Gênero

Na numerologia, o número 5 representa mudanças e transformações, e o tema cinco das ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) é o objetivo mais difícil de se realizar. Por que? Hoje, a sociedade que vivemos não aceita e nem ousa pensar sobre o mundo desta forma, onde um indivíduo que não seja homem, branco e cis perca os privilégios que ele luta todos os dias para conservar, da maneira que ele acredita que é dele por direito.


Imagem em vermelho que diz:  5 Igualdade de Gênero. Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.

E por que digo que é objetivo mais desafiador de se aplicar? Não se trata de algo tangível como tentar acabar com a pobreza através de transferência de renda, nem de construir escolas ou fazer obras de infraestrutura. Todos esses objetivos de alguma forma tem um retorno de capital monetário para quem investe, além do capital humano.


Porém quem está no poder tem a possibilidade de melhorar a sociedade e escolhe ao invés disso se manter no poder. Pode dar um pouco mais de trabalho para se manter no poder, mesmo assim aqueles que já estão lá conseguem manter seus privilégios, alegando muitas vezes terem um direito divino ao mesmo.


Cito abaixo alguns exemplos histórico, no qual a luta para mulheres ocuparem o mesmo espaço de poder sempre se torna um desafio:


Rainha Elizabeth (1558-1603)


Retrato da Rainha Elizabeth I realizado para celebrar a vitória sobre a marinha espanhola em 1588
Retrato da Rainha Elizabeth I realizado para celebrar a vitória sobre a marinha espanhola em 1588

Seu pai Rei Henrique VIII (1491-1547), se desvincula da igreja católica e cria a igreja anglicana para poder se divorciar, e assim conseguir um herdeiro homem para seu trono. Porém não tem sucesso em tal feito e quem assume o trono da Inglaterra após a sua morte é a filha Elizabeth, que, mesmo o trono sendo seu por direito, toma a decisão de não contrair matrimonio para que não perdesse o trono.


Mesmo seu pai criando uma igreja, a Rainha Elizabeth perderia seu trono caso se casasse. Seu governo foi comandado por homens, pois mesmo ela sendo a enviada de Deus para governar, todos os seus conselheiros eram homens.


Rainha Elizabeth II (1926-2022)



Então avançamos para os tempos um pouco mais atuais. Rainha Elizabeth II (1926-2022), a monarca que esteve mais tempo no poder de umas das maiores potências mundiais, que serviu ao seu país de forma discreta, sem jamais expressar suas opiniões e também escolhendo que seus conselheiros fossem homens. Todas as mulheres que ousavam aparecer e trazer ares de mudança para sociedade, acabam sendo silenciadas ou afastadas da família real.


Grandes mulheres da história


Se analisar bem a história do mundo, todas as mulheres que hoje conhecemos por serem pioneiras, seus nomes foram apagados e seus trunfos foram usurpados por homens brancos, ou essas mulheres tiveram que se passar por homens para serem respeitadas.


É só pensar em Joana d'Arc (que se transformava em homem para lutar), Maria Quitéria (se travestiu de homem para lutar no exército brasileiro), Irmãs Brondë (esconderam seus primeiros nomes para publicarem seus livros, assim as editoras e seus leitores acreditavam que os livros foram escritos por homens), Dilma Rousseff (muitas vezes criticadas por ser enérgica demais em suas reuniões) e se deixar posso passar horas demonstrando o quanto esse objetivo é o mais desafiador, pois sempre irão derrubar qualquer chance de ascensão para que isso ocorra.


Pensando e analisando historicamente, toda vez que nós “acreditamos” que estamos progredindo, no sentido de que mulheres estão começando a ocupar cargos de liderança com poder transformador de mudança na sociedade, a mulher acaba se tornando mais uma presença simbólica do que alguém com real poder, pois ao se observar quem são as pessoas que estão assessorando essa figura, acabam sendo mais do mesmo. Homens, brancos, cis, que perpetuam suas ideias conservadoras e dificultam a colocar em pratica as ideias progressistas dessas mulheres.


Quando esta mulher tenta romper com as regras estabelecidas e fazer o que ela acredita ser necessário para ocorrer uma metamorfose na sociedade, ela sofre milhões de micro violências no seu dia a dia fora dos holofotes e violência diretas em público. Exemplo claro foi o ano que Dilma Roussef sofreu o impeachment. Haviam adesivos nos tanques dos carros a desrespeitando, milhares de vezes em que o povo a chamava de burra nos seus discursos, quando ela ficava nervosa em algum pronunciamento ou por qualquer motivo que ela gaguejasse ou mesmo tropeçasse nas palavras, sendo que muitas vezes as pessoas não queriam ouvir o que ela tinha a dizer. Porém esse tratamento nunca foi dado ao Michel Temer quando chamou a Rússia de União Soviética ou mesmo quando disse que a moeda corrente do Brasil era o Cruzeiro em vez do Real, ou a Jair Bolsonaro, um homem que lê seus discursos de forma pior que uma criança recém alfabetizada.


Economia e Sociedade


Após dar uma pincelada em alguns momentos históricos, irei observar o âmbito microscópico dentro da bolha que estou inserida. Analiso que a luta para validar esse objetivo exige grande esforços das mulheres, mas olhando o lado empresarial, não vejo muitas mudanças. Vejo algumas empresas assinando a pauta do impacto global da ONU para aplicar as ODS em suas empresas, com foco principal o objetivo 05. Porém tenho a impressão de que é somente uma campanha de marketing para deixar a empresa com cara de progressista. Na hora de analisar os números, a impressão que tenho é que tudo é pura maquiagem. Um exemplo é o Grupo Natura, uma empresa que é considerada exemplo de responsabilidade ambiental e trabalho com comunidade, uma das primeiras empresas a falar sobre sustentabilidade, seus produtos voltados quase exclusivamente para mulheres, porém quando você olha sua diretoria estatutária temos somente uma mulher na equipe, e isso vai se repetindo na maioria das empresas que assinaram o pacto global. E se falarmos de mulheres negras nesse contexto de grande liderança, a presença é ainda menor ou quase nula.


Lembrando que quando o assunto é políticas públicas para mulheres, ou mesmo para que homens tenham a oportunidade de participar de áreas que foram deixadas para serem exercidas muitas vezes por mulheres, temos resistência na aplicação das mesmas. Um exemplo de política pública que traz um benefício para o homem, é a licença paternidade de pelo menos 180 dias, para que ele possa participar mais da criação dos filhos. Esse tipo de política sofre bastante ataque pelos próprios homens, com desculpas de que isso irá dar prejuízo para empresas, ou mesmo porque esses não querem se responsabilizar pelo cuidado do outro de forma efetiva.


Os exemplos que informei são somente uma gota no mar de acontecimentos que demonstram que o objetivo 5 é o mais desafiador de aplicar na nossa sociedade, pois temos todo um sistema atacando todas as possibilidades de progresso nessa área. E os ataques vem da cultura, religião, sociedade e principalmente de quem está se beneficiando para que o mundo continue do jeito que está.


Porém temos que continuar a incomodar e ocupar os espaços que sempre nos foram negados, pois a sociedade é composta em sua maioria por mulheres, pessoas negras, povos originários, etc. e essa população é a mão de obra que constrói os espaços que são negados a eles. Para que esse objetivo tenha chances de ser realizado, temos que observar a nossa volta, questionar o ambiente e perguntar sempre, por exemplo porque aquele espaço não tem mais mulheres na liderança, porque não tem negros na liderança e qual o motivo de não contratar. E se você tiver na liderança, monte a sua equipe com diversidade não se apegando a padrões.


Sinto em informar aos leitores, que quando vocês questionarem os líderes por que na oportunidade de preencher algumas vagas não contrataram mulheres e negros, e ao invés disso continuaram contratando homens, brancos, cis, saibam que na sua avaliação de desempenho tem a chance de haver um adendo informando que um dos seus defeitos é não ter filtro entre o cérebro e a boca. Pois essas pessoas não estão acostumadas a serem questionadas.


Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas


5.1 Acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em toda parte;


5.2 Eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e exploração sexual e de outros tipos;


5.3 Eliminar todas as práticas nocivas, como os casamentos prematuros, forçados e de crianças e mutilações genitais femininas;


5.4 Reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e doméstico não remunerado, por meio da disponibilização de serviços públicos, infraestrutura e políticas de proteção social, bem como a promoção da responsabilidade compartilhada dentro do lar e da família, conforme os contextos nacionais;


5.5 Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública;


5.6 Assegurar o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos, como acordado em conformidade com o Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento e com a Plataforma de Ação de Pequim e os documentos resultantes de suas conferências de revisão;


5.a Realizar reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, serviços financeiros, herança e os recursos naturais, de acordo com as leis nacionais;


5.b Aumentar o uso de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento das mulheres;


5.c Adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis.



Texto escrito por Camila Bellato

​Formada em Relações Internacionais com Pós Graduação em Gestão Econômica. Especialista em Direitos Humanos e grande entusiasta das politicas públicas baseadas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ONU).

 

Fontes




https://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/igreja-anglicana-e-a-reforma-na-inglaterra.htm


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