Situada no ponto geodésico central do Brasil, Palmas é a capital mais nova do estado do Tocantins, estado considerado mais novo do Brasil, em que fica localizada na região norte do país. O nome Palmas se deu devido à grande quantidade de palmeiras da região e, principalmente, à sede do primeiro movimento separatista do norte do estado de Goiás, que foi São João da Palma.
Miracema foi a primeira capital do estado do Tocantins e Palmas é uma das capitais do estado brasileiro que foi planejada conforme a criação do estado do Tocantins. Para entender a história de Palmas, é importante resgatar o contexto histórico do Tocantins.
A redenção do estado do Tocantins
Cinco de outubro de mil novecentos e oitenta e oito, pelo artigo treze do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição, nascia o estado do Tocantins buscando, após muitas lutas de gerações desde o final do século XIX, a autonomia política do norte do estado de Goiás, como já era batizado: Tocantins.
Após os franceses se instalarem no forte de São Luís, no Maranhão, o rio Tocantins foi descoberto em 1610 e se tornou um guia para o desbravamento da região onde o estado tocantinense se localiza. O rio, que nasce no Planalto Central de Goiás e corta todo o estado do Tocantins, de sul a norte.
Nos tempos auríferos do século XVIII, o território do atual estado do Tocantins foi incluído na região das Minas dos Goyazes. A região onde fica o estado do Tocantins ganhou fama e tornou-se uma das maiores áreas de produção de ouro na capitania brasileira. De acordo com a matéria escrita por Luís Palacim no site do governo do Tocantins:
“em quinze anos abri[r]am caminhos e estradas, vasculharam rios e montanhas, desvia[ra]m correntes, desmata[ra]m regiões inteiras, rechaçaram os índios, explora[ra]m, habita[ra]m e povoa[ra]m uma área imensa....”
Posterior à queda da mineração, o estado foi sinônimo de atraso econômico, involução social, gerador de pobreza para a maior parte da sua população e marcou uma forte decadência e abandono para a região, que só conseguiu se manter integrada economicamente ao país através da agropecuária e influência do Teotônio Segurado.
Em 18 de março de 1809 foi criado um alvará que dividia a Capitania de Goiás em duas comarcas (regiões): a Comarca do Sul e a Comarca do Norte – a do Norte teve o nome de São João das Duas Barras e após ser considerada província mudou o nome para São João da Palma - com o propósito de facilitar a administração, aplicação da justiça e incentivar o povoamento e o desenvolvimento da navegação nos rios Tocantins e Araguaia. Por meio disso, Teotônio Segurado ganhou notoriedade e se tornou um grande líder defensor dos interesses regionais. Além disso, também ganhou reconhecimento legalmente com a autonomia-administrativa da região e foi nomeado administrador e ouvidor da Comarca do Norte.
Na década de 1820 já havia anseios separatistas do território do estado de Goiás e houve a instalação de um governo independentista do Norte, sendo Cavalcante a capital provisória. Teotônio Segurado presidiu e estabeleceu essa nova junta provisória por poucos meses até que em 1822, assim a capital da comarca se torna Arraias, conforme cita o governo do Tocantins:
“o governo provisório da Comarca da Palma fez circular uma proclamação em que declarou-se separado do governo. (ALENCASTRE, 1979). As justificativas para a separação do norte em relação ao centro-sul de Goiás eram, para Segurado, de natureza econômica, política, administrativa e geográfica” (sic)
No momento em que Teotônio Segurado partiu para Lisboa como deputado representante de Goiás na Corte, algumas pessoas buscaram se impor, mas com representatividade carente não receberam muita notoriedade e com conflitos de interesse passaram a priorizar das cidades, como Cavalcante, Palmas, Arraias e Natividade, ao invés do movimento separatista do estado de Goiás.
Em 1863, Visconde de Taunay, deputado pela Província de Goiás na época do Império, propôs uma divisão no estado de Goiás, em que o Norte foi separado das demais regiões do estado. No Norte de Goiás seria criado a Província da Boa Vista do Tocantins, com a vila capital em Boa Vista (Tocantinópolis). Em 1889, Fausto de Souza, Presidente da Província de Santa Catarina, apresentou um projeto para uma nova divisão do Império em quarenta províncias já considerando o norte de Goiás como pertencente à Tocantins.
Apesar das primeiras décadas do século XX a divisão do Norte de Goiás ter repercutido apenas na região do Norte goiano – principalmente em Porto Nacional - através da imprensa, só na década de 1930 que o movimento separatista tomou proporção nacional com ênfase na sequência da Constituição de 1937, que criou os territórios do Amapá, Rio Branco, Rondônia (antiga Guaporé) e os extintos na Constituição de 1946, a saber: Itaguaçu e Ponta Porã.
Entre o período de 1959 a 1968 em Pedro Afonso, criou-se a Casa do Estudante do Norte Goiano (Cenog) que se espalhou entre outras cidades goianas. A Cenog abraçou a causa separatista do estado de Goiás com o lema “Tudo pela redenção do Norte Goiano”. Conforme a pesquisa de mestrado da professora Jocyléia Santana – que deu origem ao livro “O sonho de uma Geração: o movimento estudantil- Goiás e Tocantins”, de 2007, da editora UCG - declarada no site da Universidade Federal do Tocantins (UFT), “A Cenog – que se caracterizou em uma escola de formação política para os estudantes e movimentos sociais da região - foi uma importante precursora no processo político de separatismo do sul de Goiás com o norte, atual estado do Tocantins”.
Na década de 60, as principais cidades do norte do estado de Goiás (Pedro Afonso, Porto Nacional e Araguacema) margeavam os rios Araguaia e Tocantins. A construção da BR-153, uma das principais rodovias do estado, só teve o início da sua construção na década de 70. Na década de 90, as universidades foram construídas e a Cenog lutava para que tivesse mais moradias, escolas e universidades. Durante a luta muitos congressos foram realizados em Porto Nacional, Tocantínia e Araguacema, chegando a reunir mais de oitocentos mil jovens e juntos formaram a Conorte (Comissão de Estudos dos Problemas do Norte). “Foi a Conorte quem deu continuidade a esse ‘grito’ dos estudantes, que se tornaram profissionais liberais e estavam se juntando de forma organizada, agora com recursos disponíveis, fazendo revistas e panfletos em defesa do movimento separatista. A luta foi árdua, o movimento estudantil, que passava pelo contexto da ditadura militar, manteve seu ideário e lutou por liberdade, gerando o lema da época: Dividir para Progredir”, segundo o site da UFT.
Em 1987, lideranças aproveitaram o momento oportuno para mobilizar a população e fazer pressão para conseguir a separação do Norte do estado de Goiás. A Conorte conseguiu reunir aproximadamente oitenta mil assinaturas, reforçando a ideia da separação de estado, e apresentou para a Assembleia Constituinte. A União Tocantinense e o Comitê Pró-Criação do Estado do Tocantins foram criados com objetivos semelhantes de lutar pelo novo estado (Tocantins) através de emenda popular. "O povo nortense quer o estado do Tocantins. E o povo é o juiz supremo. Não há como contestá-lo, reconhecia o governador de Goiás na época, Henrique Santilo. (SILVA, 1999, p. 237)”, conforme descrito pelo governo do estado do Tocantins.
Um novo horizonte
Em junho de 1988, o deputado Siqueira Campos, relator da Subcomissão dos Estados da Assembleia Nacional Constituinte, redige a fusão de emendas citando a criação do estado do Tocantins e entrega a Ulisses Guimarães, presidente da Assembleia. No mesmo dia houve uma votação e foi aprovado. Sendo assim, no dia 05 de outubro de 1988, pelo artigo 13 (treze) do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição foi criado o estado do Tocantins. A cidade de Miracema do Norte foi escolhida como capital do estado provisoriamente.
No dia 15 de novembro de 1988 pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás foi realizada a eleição dos primeiros representantes do governo do estado. José Wilson Siqueira Campos foi eleito governador, enquanto Darci Martins Coelho foi eleito vice-governador. Os primeiros senadores do estado foram Moisés Abrão Neto, Carlos Patrocínio e Antônio Luiz Maya. Além desses políticos, mais oito deputados federais e vinte e quatro estaduais tomaram posse no primeiro dia do ano de 1989.
Em poder, o governador Siqueira Campos assinou decretos para a criação das Secretarias de Estado viabilizando o funcionamento dos poderes (legislativo, judiciário e tribunais de justiça e de contas), além da nomeação para cargos de primeiro secretário e desembargadores. Através do decreto, as cidades que constavam “do Norte” no nome, tiveram a substituição por “do Tocantins” e passaram a ser chamadas de Miracema do Norte, Paraíso do Norte e Aurora do Norte para Miracema do Tocantins, Paraíso do Tocantins e Aurora do Tocantins.
Dia cinco de outubro de mil novecentos e oitenta e nove, com a primeira Constituição do Estado do Tocantins promulgada, foram criados mais quarenta e quatro municípios, além dos setenta e nove já existentes. Atualmente Tocantins tem 139 (cento e trinta e nove) municípios. Numa área de 1.024km2 (mil e vinte e quatro quilômetros quadrados), desmembrada do município de Porto Nacional, que foi unida à Taquarussu e povoada por Canela, sua localização é de possível polo de irradiação de desenvolvimento econômico e social do estado (cf. IBGE). No ponto geodésico central do Brasil nasceu Palmas, banhada pelo rio Tocantins e planejada para ser a capital do estado.
Criada no final de maio de 1989 e instalada no primeiro dia do ano subsequente, posteriormente à Palmas, recebe a sede administrativa do até então município de Taquarussu, tornando o prefeito eleito na cidade, Fenelon Barbosa, o primeiro prefeito de Palmas. Nessa direção, Taquarussu do Porto, Taquaralto e Canela se transformaram em distritos de Palmas. No dia 01 de janeiro de 1990, Palmas se tornou a capital do estado do Tocantins. Em 1995, o município se agrupou em Palmas, Taquaralto e Taquarussu do Porto e no ano de 2001, Palmas, Butirana e Taquarussu do Porto (cf. IBGE).
Com a independência financeira do estado de Goiás, em 1993, a prefeitura começou a construir valas para água encanada e novas quadras foram loteadas para moradores. O endereço em Palmas, bem como Brasília, é composto por siglas de localização. Exemplo: ALC-SO, 35, Área de Lazer e Cultura Sudoeste número 35.
Apesar de ser a capital mais nova do estado mais novo do Brasil e com habitantes migrantes de outras regiões do país, o que parecia ser uma preocupação em ter uma população considerável, o Censo tranquilizou apresentando que 24,3 mil pessoas já habitavam a cidade em 1991, moradores relataram que era difícil de chegar recursos aos moradores antes da separação do estado goiano.
O protagonismo de Siqueira Campos
José Wilson Siqueira Campos foi quem criou a cidade de Palmas e foi o primeiro governador do estado brasileiro do Tocantins, cargo que ocupou por quatro vezes (de 1989 a 1991, de 1995 a 1998, de 1999 a 2003 e de 2011 a 2014, sendo o último renunciado). Siqueira Campos, em reportagem ao site do governo do Tocantins em 2020, alegou que a localização de Palmas fortaleceu a economia e resgatou uma região que poderia se tornar esquecida e que anteriormente era conhecida como “corredor da miséria”, substituindo, assim, a fama negativa da cidade ao torná-la uma produtora e exportadora de grãos.
Outro fator é que no rio Tocantins está localizada a hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães que abastece o estado. Desse modo, o estado do Tocantins possui, portanto, relevância em agropecuária e hidrelétrica.
Morador de Palmas e com 94 anos, José Wilson Siqueira Campos é pai do Eduardo Siqueira Campos, o primeiro prefeito eleito de Palmas e posteriormente senador pelo estado. A família Siqueira Campos assina muitos monumentos e obras na cidade de Palmas e no Palacinho. Vale lembrar, nesse sentido, que a primeira sede do governo possui uma exposição fixa sobre a história do estado e a importância de José Wilson Siqueira Campos para a região.
Os encantos da capital mais jovem do Brasil
Segundo o IBGE, em 2020 (dois mil e vinte), o município ocupou o 1506º (milésimo quingentésimo sexto) lugar na escala de PIB em comparação aos 5.572 municípios que o Brasil possui e a mortalidade infantil é de 12,13 para 1000 (mil) nascidos vivos. Em 2021 (dois mil e vinte e um), o IBGE alegou uma estimativa de população de 313.349 pessoas (trezentos e treze mil e trezentos e quarenta e nove pessoas) e Palmas ocupou a posição a 793º (Septingentésimo Nonagésimo Terceiro) de 5570 munícipios do país que possui pessoas nos anos finais do ensino fundamental em rede pública. A economia da cidade de Palmas tem ênfase na área de Agropecuária e Serviços, sejam eles administrativos ou industriais.
Ao observar o relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em relação ao Índice de Desenvolvimento Sustentável das cidades do Brasil em 2023 (dois mil e vinte e três), percebe-se que está em 655ª posição de 5570ª na classificação geral dos municípios do Brasil (de 100 pontos a capital tem uma pontuação de 55,1) com objetivos atingidos nas áreas de proteção à vida marinha e indústria, inovação e infraestruturas, mas com áreas extremamente carentes em relação à fome, educação de qualidade, sustentabilidade, paz, justiça e instituições eficazes, igualdade de gênero e desigualdade.
A capital tocantinense é uma das duas capitais de estados brasileiros que tem uma mulher no cargo de prefeita municipal. A minha vivência na cidade foi percebida com curiosidade e muita atenção para um possível machismo estruturado durante atendimentos recebidos em alguns locais quando estive acompanhada do meu marido. Enquanto eu questionava o garçom sobre determinados pratos, perceptivelmente este garçom respondia para o meu marido, que não havia perguntado nada, ao invés de retornar a resposta para mim. Não foram todos os locais, mas foram em vários momentos. Ao conhecer as moradoras do local e dividir essa experiência, elas confirmaram que já viveram essa situação em diversos momentos. Desse modo, isso leva à reflexão de que a cultura antiga do velho norte de Goiás permanece e compreende-se que, conforme conversado com muitas moradoras que relataram terem vivido a mesma coisa.
Desbravando Palmas e arredores
Apesar do calor intenso que permanece durante o ano inteiro, no inverno a temperatura mínima de Palmas é próxima de 15 graus e durante o verão, os meses de novembro a março se tornam mais frescos, devido às chuvas.
Com aeroporto e relativamente próximo ao Jalapão — diga-se de passagem que é uma região que engloba algumas cidades e possui este nome devido a uma batata nominada Jalapa, que é utilizada para curtir em aguardente e chega a adormecer a boca, como a cachaça de Jambu —, Palmas é muito utilizada para chegar até o Jalapão.
A capital tocantinense também possui shoppings, barzinhos, cervejaria local Krahö, sebo da Vovó (super completo), entre muitos outros atrativos, destacando-se as belezas naturaus. O rio Tocantins que permeia a cidade de Palmas é um atrativo aos tempos livres das pessoas, além das praias de água doce da cidade, nas quais as mais famosas são a praia Graciosa, Prata, Arnos e Caju. Enquanto a praia Graciosa possui um dos bares mais famosos da cidade que é o D. Maria, a praia do Prata possui uma estrutura atrativa para almoço, com mesas e cadeiras na beira do rio, com bebidas geladas e pratos típicos. A praia Arnos é uma das mais limpas e a do Caju que permaneceu mais rústica com pouca intervenção humana, mas ainda assim com locais de comedouros. A maioria das praias possuem locais que vendem pratos típicos como o peixe Tucunaré.
Taquarussu é um bom local para visitar belas cachoeiras e realizar trilhas. Palmas tem lindos pores do sol. O Mirante de Palmas é um local tranquilo, de paz, com linda vista, mas para acessá-lo precisa pagar uma taxa simbólica (em 2022 foi de R$2,00 por pessoa) e realizar uma trilha íngreme em meio ao mato. O pôr do sol do mirante é maravilhoso, bem como de qualquer praia ou da praça Girassol. A praça Girassol, além de ser o cartão postal da cidade e por conter pontos importantes ao estado e ao Brasil, é a maior praça da América Latina e a segunda maior praça do mundo, com mais de 570 mil quadrados de extensão.
A praça dos Girassóis, na imagem acima, abriga a sede dos três poderes do estado do Tocantins (executivo, legislativo e judiciário) e apresenta os monumentos que homenageiam o povo palmense e tocantinense: o Monumento de Súplica dos Pioneiros, Cruzeiro (onde foi celebrada a primeira missa), Monumento aos Dezoito do Forte, Frisas e Brasão do Estado, entre outros. Além disso, há também o Centro Geodésico do Brasil (Rosa dos Ventos) que significa ser o ponto central entre os extremos (norte - sul, leste - oeste) do Brasil.
Para praticar esporte, o parque Cesamar e o parque dos Povos Indígenas são bem atrativos. No entanto, se a ideia é ter uma vivência com a família ou curtir a noite palmense ao ar livre, o parque dos Povos Indígenas é a melhor opção, bem como o festival de Natal que acontece no mês de dezembro, na cidade.
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Texto escrito por Fabiana Mercado
Pós graduada em Comunicação e Marketing Digital, formada em Publicidade e Propaganda, acumula mais de 9 anos na área, colunista do Zero Águia, curiosa, preza o respeito a todas as pessoas independente de características. Nas horas vagas pratica corridas com o apoio da equipe Superatis. Adora conhecer novas pessoas e lugares, ama viajar e possui um projeto denominado Desbravando Capitais com o marido para morar e vivenciar durante um mês em todas as capitais brasileiras nos próximos anos.
Instagram: @desbravando_capitais
Fontes
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/32597-capital-paulista-respondia-por-10-3-do-pib-do-pais-em-2019
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Jo%C3%A3o_das_Duas_Barras
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