A Arábia Saudita está no centro das atenções no mundo do esporte devido a investimentos maciços em acordos esportivos desde o início de 2021, totalizando pelo menos US$ 6,3 bilhões (R$ 31,2 bilhões). Essa soma representa quatro vezes mais do que foi gasto nos seis anos anteriores. Esse movimento ousado é parte integrante da Visão 2030, uma ambiciosa iniciativa liderada pelo príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman, que busca diversificar a economia do país e reduzir sua dependência do petróleo.
O ponto alto dessa estratégia é a aquisição de quatro dos principais clubes de futebol da Arábia Saudita pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita: Al Ahli, Al Hilal, Al Nassr e Al Ittihad. Além disso, a liga de futebol saudita já era considerada a mais forte da região, o que contribuiu para sua capacidade de atrair jogadores de elite.
No epicentro dessas transações está a contratação de Neymar, que fechou um acordo estimado em 90 milhões de euros (R$ 483,5 milhões) com o Paris Saint-Germain para se juntar ao Al Hilal. O contrato prevê dois anos com a opção de um terceiro, e Neymar receberá um salário anual de 100 milhões de euros (R$ 538 milhões), equivalente a mais de R$ 44 milhões por mês. Essa mudança marca o fim de uma era tumultuada de seis anos do astro brasileiro no PSG, onde enfrentou lesões e desafios fora do campo, apesar de conquistar títulos da Ligue 1 e chegar à final da UEFA Champions League em 2020.
Neymar não está sozinho nessa revolução esportiva saudita. Outros nomes de destaque, como Cristiano Ronaldo, N'Golo Kanté, Karim Benzema, Sadio Mané, Romarinho, Alex Telles e Malcom, também se juntaram aos clubes sauditas. Essas contratações de alto nível têm chamado a atenção para a crescente influência do país no cenário esportivo global.
No entanto, por trás desse ambicioso movimento esportivo, há uma estratégia mais ampla. A Arábia Saudita está adotando uma abordagem de "Soft Power" (Poder Brando) para melhorar sua imagem internacional. O conceito de Soft Power, introduzido pelo teórico de Relações Internacionais Joseph Nye, destaca a capacidade de influenciar o comportamento dos outros para alcançar objetivos desejados, sem recorrer à coação. Para que o Soft Power funcione, é essencial compreender as preferências das partes envolvidas.
Nesse contexto, a Arábia Saudita está utilizando investimentos em esporte, entretenimento e turismo como ferramentas para melhorar sua imagem global. Isso é particularmente importante para mitigar preocupações sobre seu histórico de abusos dos direitos humanos, como a criminalização da homossexualidade, a submissão das mulheres aos homens por lei e restrições à liberdade de expressão, além da frequente aplicação da pena de morte.
Os esforços do país árabe incluem a realização de grandes eventos que são bem recebidos pela população jovem do país, ao mesmo tempo em que buscam gerar empregos e evitar agitações internas. Assim, a busca pelo Soft Power tornou-se uma parte fundamental da estratégia global da Arábia Saudita para influenciar positivamente as percepções e o comportamento de outros países no cenário global.
À medida que os olhos do mundo se voltam para a revolução esportiva saudita, fica claro que esses investimentos bilionários não apenas transformam o cenário esportivo, mas também representam um esforço para moldar a narrativa global em torno do país e de suas ambições para o futuro. A Arábia Saudita possivelmente estaria apostando alto, não apenas no campo esportivo, mas também como um ator influente.
Texto escrito por Matheus Noronha
Formado em Mecânica Aeronáutica, estudante de Engenharia de Automação e Controle pela Universidade São Judas. Um amante da ciência e literatura e curioso por essência.
Revisão por Eliane Gomes
Edição por Felipe Bonsanto
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