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Foto do escritorEliézer Fernandes

Resgatando a História: Não-Violência

Atualizado: 27 de out. de 2022

Neste último dia 2 de Outubro foi celebrado o dia Internacional da Não-Violência, coincidindo com a data de nascimento do líder indiano Mahatma Gandhi. Proclamado pela Assembleia Geral da ONU em 2007, o Dia Internacional da Não-Violência busca divulgar a mensagem da não-violência por meios como a educação e o aumento da consciência pública sobre o tema.


Foto representando a não-violência, com uma mão fazendo o sinal de pare enquanto a outra dá um soco,.
A origem do termo “não-violência” vem do sânscrito e significa “ausência do desejo de ferir ou matar”.

O que é Não-Violência e Cultura de Paz?


Não-violência, em sânscrito ahimṣā, é a prática pessoal de não causar sofrimento a si próprio ou a outros seres sob qualquer circunstância. Ela surgiu da crença de que ferir pessoas, animais ou o meio ambiente não é necessário para se conseguir vantagens. Se refere a uma filosofia geral de abstenção da violência, tendo, como base, princípios religiosos, espirituais e morais.


Não-violência parte do princípio que todos os seres humanos tem em si motivos válidos para realizarem suas ações, mesmo que perversas, muitas vezes acreditando estarem fazendo o bem para si, seus ente queridos ou seu país. Porém a não-violência condena as práticas violentas e agressivas, sejam elas partindo de princípios considerados "justos" ou não.


História


Mahavira (599-527 a.C.), o 24.º tirthankara do jainismo (um ser que conseguiu escapar ao ciclo dos renascimentos e que ensinou aos outros como poderiam também escapar desse ciclo) , introduziu o conceito de "não violência" para o mundo, aplicando-o em sua própria vida. Ele ensinava que, para se obter o nirvana, era necessário se abster da violência.


O conceito também possui elementos ativistas, como quando é usado como instrumento de mudança social. Neste sentido, o termo é, comumente, associado à luta pela independência da Índia, liderada por Mahatma Gandhi, e à luta pelos direitos civis dos negros norte-americanos, liderada por Martin Luther King Jr.


Mahatma Gandhi e Martin Luther King.
Mahatma Gandhi e Martin Luther King.

O movimento ocorrido na Índia foi fortemente influenciado pelos princípios da religião jainista, pelas ideias de desobediência civil de Henry David Thoreau e do anarquismo cristão de Leon Tolstói. O exemplo indiano inspirou uma série de ações que ocorreram nas décadas seguintes. Na década de 1960, a campanha não violenta de Cesar Chavez lutou contra o tratamento infligido aos trabalhadores rurais da Califórnia. A não violência também inspirou a Revolução de Veludo na Checoslováquia, em 1989. Mais recentemente, a campanha não violenta de Leymah Gbowee e das mulheres da Libéria conseguiu interromper uma guerra civil que já durava catorze anos.


Leymah Gbowee e duas outras mulheres recebendo premios.
Em 2000, Leymah Gbowee entrou na organização “Women in Peacebuilding Network” (WIPNET) e se introduziu na militância com e pelas mulheres. Tão logo ingressou, assumiu a liderança da rede e começou a organizar sua primeira mobilização histórica. Convocando mulheres cristãs e muçulmanas de todas as etnias, Gbowee articulou a união feminina com o objetivo de rezar pelo fim do conflito, ao mesmo tempo em que espalhavam ideias de conscientização dos direitos e protagonismo das mulheres.

Embora a não violência seja, frequentemente, confundida com passividade e pacifismo, tal associação é rejeitada pelos ativistas adeptos da não violência. Não violência é a ausência de violência e se refere à opção de se causar pouco ou nenhum dano, enquanto que passividade significa não fazer nada. A não violência pode ser passiva em alguns casos, e ativa em outros. Uma mesma pessoa pode, contraditoriamente, defender a não violência em alguns casos e ser violenta em outras situações. Por exemploː opositores ao aborto ou à alimentação carnívora podem, eventualmente, matar um realizador de abortos ou atacar um abatedouro de animais, o que as classificaria como pessoas violentas.


A Organização das Nações Unidas (ONU) define a cultura de paz como um conjunto de valores e atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida baseados: No respeito à vida, no fim da violência e na promoção e na prática da não violência por meio da educação, do diálogo e da cooperação.

"A proposta de uma cultura de paz é de uma revolução muito grande, uma grande transformação individual e social. Porque é necessário modificar todo um sistema educacional, dentro de escolas, universidade, as famílias... Quando digo "famílias", não são apenas pai, mãe e filhos. Família são pessoas que convivem em um mesmo ambiente e o compartilham. São pessoas que se respeitam e se cuidam, que compartilham alimentos, sonhos e realidades." Trecho retirado do livro O inferno somos nós: do ódio à cultura de paz, de Leandro Karnal e Monja Coen.


Manifesto 2000


O “Manifesto 2000: Por Uma Cultura de Paz e Não Violência” foi escrito por um grupo de ganhadores do Prêmio Nobel da Paz, com o fim de criar um senso de responsabilidade que se inicia em nível pessoal. Não se trata de uma moção ou petição endereçada às altas autoridades.


É responsabilidade de cada um colocar em prática os valores, as atitudes e as formas de conduta que inspirem uma cultura de paz. Todos podem contribuir para esse objetivo dentro de sua família, de seu bairro, de sua cidade, de sua região e de seu país ao promover a não violência, a tolerância, o diálogo, a reconciliação, a justiça e a solidariedade em atitudes cotidianas.


O Manifesto 2000 foi lançado em Paris (França), no dia 4 de março de 1999, e apresentado à Assembleia Geral das Nações Unidas em sua reunião da virada do milênio em setembro do ano 2000.


A não-violência não é algo simples ou fácil de ser implementado em uma sociedade que vive com medo, sempre em alerta contra o próximo. O medo sempre foi uma das raízes da violência e do ódio porém é dever do ser humano como espécie entender que seu semelhante, mesmo com aspirações e valores diferentes, merece viver em paz.



Texto escrito por Eliézer Fernandes

Fundador e editor-chefe do Zero Águia, é desenvolvedor de software, formado em Segurança da Informação pela FATEC e fascinado por história e relações internacionais.

 

Fontes




Artigo sobre não-violência na Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%A3o-viol%C3%AAncia


KARNAL, Leandro. O inferno somos nós: Do ódio à cultura de paz. Campinas, SP: Papirus 7 Mares, 2018.

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