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A fé de milhões: cristianismo, lobby e política

Para muitos, a religião é considerada a “salvação”, além de encontrarem nela um alento para enfrentar seus problemas cotidianos, muitas vezes reflexo da desigualdade social em que vivem.

Conselho de Pastores Evangélicos do DF – Foto: Renato Araújo/Agência Brasília

No Brasil, segundo dados da pesquisa do Datafolha, realizada em 2022, cerca de 70% da população brasileira se define como cristã, onde 70% se definiram como católicos e outros 30% como evangélicos. Esse cenário vem se transformando ao longo dos últimos anos, já que o número de evangélicos cresce de modo notável no Brasil, diferente do percentual de católicos.


Este aumento do número de evangélicos brasileiros é acompanhado pela presença maciça de templos religiosos, dentre os quais são mais conhecidos a Assembleia de Deus, Deus é Amor, Universal do Reino de Deus, Mundial do Poder de Deus, Graça de Deus, Congregação Cristã do Brasil entre outros que formam um universo de mais de 300 mil templos espalhados por todo o Brasil.



Fé, Conservadorismo e Política


O aumento do conservadorismo no Brasil, principalmente nos últimos anos, ajudou no surgimento de líderes religiosos e a política acompanhou esse movimento, nomeando inclusive uma das bancadas mais polêmicas do Congresso Nacional, a “Bancada da Bíblia”.

Charge Lattuf Cartoons (2013) – Reprodução

A bancada evangélica, ou da Bíblia, conquistou terreno em relação a 2018, ano em que elegeram o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, onde somava 91 deputados naquela legislatura. Nas últimas eleições, somou 102 deputados e 13 senadores, isso equivale a 20% das duas casas do Congresso Nacional, o que influenciará bastante as pautas dos próximos 4 anos.


Todo esse crescimento está diretamente ligado à atuação mais ofensiva dos líderes religiosos em eleger seus representantes nos espaços de poder para defender pautas tidas como “cristãs e conservadoras” aos interesses dos líderes religiosos. E engana-se quem pensa que as pautas visavam somente a costumes, como por exemplo a proibição do aborto em qualquer caso, muitas delas estão ligadas a temas de ordem econômicas e fiscais como a isenção de impostos para templos religiosos.


A arrecadação de impostos para templos religiosos, sendo obrigatória ajudaria para o equilíbrio fiscal e beneficiaria a sociedade. Além disso, considerando que muitos desses líderes religiosos se apoderam dos recursos doados pelos fiéis para ostentarem suas riquezas enquanto parte dos fiéis que contribuem com ofertas mal possuem três refeições diárias.


Causa indignação a falta de coerência que líderes religiosos e políticos da “Bancadas da Bíblia” não vivam o que pregam, usam a fé das pessoas para enriquecimento pessoal. Conseguem destilar seu ódio e preconceito, usar armas, cometer crimes e não respeitar outras religiões com um salvo conduto incredível. Sem o manto da virtuosidade e religiosidade, muitos estariam presos ao se aproveitarem de pessoas que buscam na fé (e na religião) um alicerce para enfrentar seus problemas e acabam sendo usadas por mercadores da fé.


Os mercadores da fé


A maneira como as igrejas agem é muito parecida, o que geralmente muda é o nome e os líderes religiosos a frente delas. A forma que mais se destaca é a arrecadação de grandes quantias através da persuasão, sempre utilizando o nome de Deus e a promessa de retornos pessoais, profissionais e principalmente financeiros.

A persuasão nos templos com vendas de objetos “santificados” já causou muita polêmica. Ilustração: Blog William e Amigos (Reprodução)

O discurso para arrecadação começa ora vendendo vassouras ungidas para varrer o mal, carros, água, óleos, carnês, e ora vendendo um pedacinho no céu. Tudo isso acaba tocando de maneira muito forte as pessoas que geralmente estão fragilizadas e faz com que realmente doem, inclusive seu único recurso disponível, acreditando que obterão um retorno. Vale lembrar que essa prática é bastante condenada por parte da sociedade, mas faz com que as igrejas arrecadem grandes quantias, enriquecendo os templos e seus líderes que ostentam com suas propriedades, jatinhos, fazendas, canais de televisão, rádios, carros importados, que na verdade deveriam ser revertidos para a “obra de Deus” que eles mesmo pregam.


Todo esse poder econômico faz com que se tornem ainda mais poderosos e grandes influenciadores do cenário político nacional impactando em decisões que podem afetar seus interesses pessoais, como a cobrança de impostos, que citei acima.


Infelizmente nem os templos religiosos estão livres de crimes, pois nos últimos anos diversas pessoas usaram a religião para esconder seus atos ilegais. Não se espera (no senso comum) que religiosos sejam criminosos que lavem dinheiro, desviem recursos públicos, cometam importunação sexual, sonegue de impostos, entre outros crimes, mas a fé se tornou um negócio altamente lucrativo no sentido econômico e de obter ganhos, tudo isso escondido e aceito socialmente.

​Texto escrito por Ivo Mendes É ativista e militante há mais de 12 anos em pautas antirracistas e no combate às desigualdades sociais no Brasil. Retirou o medo do seu vocabulário, por isso é um sonhador por essência e entusiasta por sobrevivência. Formado em Gestão da Tecnologia da Informação, passou pela vida política da Baixada Santista e atualmente trabalha na área administrativa e integra a equipe de colunistas do Zero Águia

Revisão textual realizada por: Mateus Santana

Edição e arte por: Katiane Bispo



 

Fontes




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