As relações entre Angola e Brasil são marcadas por uma longa história de interação e cooperação, que se destaca há séculos. Ambos os países compartilham laços históricos nos âmbitos político, cultural e econômico, que influenciam significativamente a dinâmica das relações bilaterais. Neste contexto, a reflexão e análise das relações entre Angola e Brasil são fundamentais, tendo em conta que as relações entre os diferentes Estados não são estáticas, mas dinâmicas.
As relações políticas entre Angola e Brasil são históricas, pois os países mantêm suas relações diplomáticas desde a independência de Angola. Salienta-se que o Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a independência de Angola, proclamada em 11 de novembro de 1975, pelo então Presidente Dr. António Agostinho Neto. Entretanto, apenas cinco anos mais tarde, após o reconhecimento da independência de Angola, a cooperação entre ambos os países atingiu o seu ponto mais alto com a assinatura do primeiro Acordo de Cooperação Econômica, Científica e Técnica, no dia 11 de junho de 1980.
Ao longo dos anos, várias entidades políticas, incluindo presidentes, ministros e comissões mistas dos dois países, têm se desdobrado em visitas oficiais, resultando na assinatura de outros acordos de cooperação em diversas áreas, com destaque na vertente económica.
Consta que as relações bilaterais foram elevadas a outro patamar com o lançamento, em 2010, de uma parceria estratégica e de múltiplas dimensões, política, econômica, cultural, comercial, de cooperação técnica, de cooperação educacional e de integração cidadã ou consular. Releva-se que, no continente africano, o Brasil possui apenas este tipo de parceria apenas com Angola e África do Sul.
Durante o período do governo do Partido dos Trabalhadores, liderado pelo Presidente Lula da Silva, houve uma maior aproximação com o governo de Angola, resultando em apoio financeiro, construção e reconstrução de vários projetos estruturantes para o desenvolvimento do país africano.
Nesse período, algumas empresas brasileiras significativas, como as construtoras Odebrecht, participaram diretamente na construção da principal hidrelétrica, denominada como Central Hidroelétrica de Capanda.
As empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão assinaram vários outros grandes contratos para a execução de obras públicas, incluindo a construção de estradas, edifícios habitacionais e escritórios. A relação entre os dois países abrandou durante a vigência do governo do Presidente Jair Bolsonaro, devido à fraca agenda de sua política externa com os países africanos e, particularmente com Angola. No entanto, com a reeleição de Lula da Silva para a presidência do Brasil no final de 2022, cujas funções se iniciaram em 1º de janeiro de 2023, houve o retorno e o redimensionamento das relações, capazes de impulsionar os diferentes setores estruturantes para o desenvolvimento de Angola.
Relações Comerciais
No campo comercial, Angola e Brasil mantêm uma relação comercial significativa, com o Brasil sendo um importante parceiro. Os principais produtos exportados de Angola para o Brasil incluem minérios, petróleo e produtos agrícolas, enquanto o Brasil exporta para Angola produtos transformados, máquinas e equipamentos. Sendo o Brasil o terceiro maior produtor mundial de alimentos e um dos primeiros em produção de proteína animal, Angola pode retirar vantagens em vários níveis.
Angola ainda enfrenta desafios em relação à autossuficiência alimentar, de modo que as parcerias comerciais, que não devem se limitar ao nível governamental, mas também se estender aos privados (empresários), poderão reduzir a dependência alimentar externa que o país vive.
Essas parcerias devem focar não apenas na aquisição de experiência, particularmente no setor agrícola e na produção de alimentos para pessoas e ração animal, mas também em obter conhecimento sobre sistemas de irrigação, logística e distribuição de produtos para as diferentes áreas do extenso território de Angola. Numa primeira fase, isso ajudaria a alcançar a autossuficiência interna e, posteriormente, com maior produção, a alcançar outros mercados internacionais. Há, entretanto, na relação comercial entre os dois países, algumas barreiras que devem ser consideradas para o normal incremento do fluxo comercial entre Angola e Brasil, tais como os altos custos dos voos de passageiros (empresários), a burocracia na aquisição de vistos de entrada para Angola e Brasil (vice e versa), excessiva burocracia no processo de investimento, a criação de indústrias e a segurança jurídica, particularmente no caso de Angola. Nesse sentido, é essencial que os dois países trabalhem em conjunto para superar esses obstáculos e promover um comércio mais dinâmico e diversificado.
Cultura
Na vertente cultural e acadêmica, destacamos a boa e crescente cooperação entre instituições de ensino superior de Angola e Brasil. Tem havido intercâmbios de documentos, estudantes, projetos de pesquisa conjunta e a realização de eventos acadêmicos bilaterais. Essa cooperação tem contribuído para o enriquecimento do ambiente acadêmico, promovendo a troca de conhecimentos e experiências entre as instituições de ensino superior.
Angola e Brasil possuem culturas abundantes e enraizadas, ligadas por fatores históricos. A influência da cultura angolana na brasileira é manifestada na música, dança e culinária. Ao longo dos anos, também temos visto uma forte cooperação cultural entre Angola e Brasil, com intercâmbios, eventos culturais conjuntos e programas de extensão universitária. Essas iniciativas contribuem para a promoção da diversidade cultural e para fortalecer a amizade entre os povos angolano e brasileiro.
Em suma, é importante que Angola e Brasil continuem investindo na promoção da cooperação em vários domínios, o que terá impacto no fortalecimento das relações políticas, comerciais e culturais. Somente assim será possível avançar para um ambiente mais rico e diversificado, beneficiando os cidadãos destes dois países maravilhosos.
Texto escrito por Isaac Jorge
É licenciado em Relações Internacionais e possui experiência diplomática na Missão Diplomática de Angola na África do Sul. Nos últimos 18 anos, trabalhou no Banco Sol S.A., assumindo diversas responsabilidades, incluindo Subdiretor de Desenvolvimento de Negócios, Chefe de Departamento de Banca de Investimentos e Chefe de Departamento de Organização e Qualidade. Também é apaixonado por futebol.
Revisão: Eliane Gomes
Edição: Felipe Bonsanto
REFERÊNCIAS:
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