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O assassinato de Shinzo Abe

Em 8 de julho de 2022 o ex-primeiro ministro japonês Shinzo Abe foi assassinado na cidade de Nara no Japão. Considerado um politico ultraconservador e nacionalista, foi assassinado por Tetsuya Yagami, um ex-militar de 41 anos a tiros durante um evento eleitoral. Abe tinha 67 anos.



Shinzo Abe, nascido na cidade de Tóquio em 21 de Setembro de 1954, era casado com Akie Matsuzaki e ganhou notoriedade como primeiro ministro japonês, exercendo quatro mandatos pelo grupo nacionalista Nippon Kaigi. Foi muito importante na politica econômica do país adotando livre mercado, estimulando a produção própria e a flexibilização fiscal.


Formado em ciências politicas, Abe foi um dos mais jovens premiês do Japão, assumindo o cargo com 52 anos, enfrentando grandes desafios como uma reforma constitucional e a missão de estreitar relações com a China e a Coreia do Sul, abaladas pelo ocupante anterior do cargo.


O primeiro mandato de Abe, apesar de conquistar avanços diplomáticos históricos principalmente com os EUA e Coreia do Sul, foi marcado por diversas gafes politicas de seus subordinados, no fim contornadas com sucesso pelo premiê japonês, o que o levou ao seu segundo mandato que foi marcado por uma revolução monetária e por uma postura mais rígida com os vizinhos de fronteira do país, além da implementação de politicas liberais nos âmbitos fiscais e comerciais do Japão.


O terceiro e quarto mandatos foram uma continuidade das medidas adotadas nos mandatos anteriores, porém novamente houveram problemas com subordinados de Abe, que foram substituídos ou afastados e após antecipação da eleição que o levou ao quarto mandato, surgiram alguns questionamentos sobre o motivo dessa antecipação, dentre os mais notórios a teoria de que tudo teria sido uma manobra para evitar questionamentos sobre supostos escândalos ainda em investigação por parte dos parlamentares, o que afetaria a votação nas câmaras onde Abe foi eleito com maioria em todas as suas campanhas.


Abe sofria com colite ulcerosa e devido aos compromissos demandados por seu cargo houve piora no seu quadro, o que o fez renunciar em Agosto de 2020. Ele anunciou a renúncia ressentindo por não ter mais capacidade de cumprir seus compromissos de maneira efetiva.


O assassino e o crime


Foto tirada momentos antes do atentado contra Shinzo Abe.
Foto tirada momentos antes do atentado contra Shinzo Abe.

Em 8 de Julho de 2022, durante um discurso de campanha em Nara, Abe foi baleado pelas costas. Foram disparados dois tiros oriundos por uma arma artesanal. Acredita-se que tal instrumento foi utilizado pelo assassino Yamagami Tetsuya devido à rígida legislação referente a armas de fogo no Japão, o que resulta em um baixíssimo índice de incidentes com armas de fogo no pais.


Abe foi socorrido, porém veio a óbito devido à hemorragia causada pelos disparos e Tetsuya foi preso em flagrante com a arma do crime ainda em mãos. Inicialmente o autor dos disparos alegou que tinha um descontentamento com a posição politica de Abe, alimentado logo após sua renúncia em 2020.


Em um momento posterior Yamagami Tetsuya teria afirmado que o real alvo era um líder religioso o qual Abe era estreitamente ligado e até promoveu durante campanha.

Membros da igreja da unificação, na Coréia.
Membros da igreja da unificação, na Coréia.

Esses dados foram noticiados no Japão e suas fontes são de origem anônima. Após divulgação da notícia veio à tona que o grupo religioso se tratava da Igreja da Unificação e que Tetsuya em depoimentos afirmou envolvimento de Abe com a seita e que a mesma pressionava os fiéis a fazerem doações absolutamente abusivas, e uma das fiéis seria sua mãe que segundo ele perdeu todos seus bens realizando donativos ao grupo religioso.


Pouco se foi divulgado sobre o passado de Yamagami Tetsuya. O homem de 41 anos é um ex-membro das forças de Autodefesa Marítima do Japão. Ele é natural de Nara, local em que foi cometido o crime. O mesmo deve passar por testes psicológicos para determinar até que ponto estava lúcido e ciente de seus atos.


O grupo religioso já havia sido citado em casos como o descrito acima, e com a pressão e importância do caso relatado por Tetsuya, o primeiro-ministro japonês Fumio Kishida ordenou uma investigação governamental sobre as práticas do grupo e o suposto envolvimento de Abe com a Igreja da Unificação. O novo primeiro ministro prometeu cortar ligação com o grupo tendo em vista que metade dos seus deputados tem laços com a igreja.


Fake News, ignorância e violência



Devido a incidentes relacionados a armas de fogo no Japão serem raríssimos há uma sensação de segurança imensa que pode ter sido abalada com o crime em questão. Em levantamento realizado em 2021 foi registrada apenas uma morte oriunda de disparos de armas de fogo no país e no mesmo período foram registradas mais de 45 mil nos EUA e um pouco mais de 30 mil mortes no Brasil. O fato é diretamente potencializado devido a fatos semelhantes ocorridos no mundo e a notoriedade de Abe, que era uma das figuras politicas mais populares do Japão.


Abe foi uma figura muito importante, pois interrompeu um período de instabilidade politica no Japão que teve diversas trocas de premiês. Dividiu opiniões no inicio de sua carreira como premiê adotando medidas ousadas para o padrão do país, potencializando a economia e acabando com dificuldades enfrentadas em um período instável do Japão relacionado a diplomacia e economia.


Com a polarização politica acontecendo em todo o mundo e a pauta tomando uma importância jamais vista, outros incidentes como o assassinato de Abe tem acontecido ao redor do mundo. O fenômeno das fake News tem afetado massivamente uma parcela da população, que ainda não busca confirmar as noticias disseminadas nas mídias e aplicativos de comunicação e tem suas opiniões guiadas por inverdades e em alguns casos isso leva a atitudes extremas como a de Yamagami Tetsuya, motivado por rumores não confirmados do envolvimento de Abe com a Igreja da Unificação.


Recentemente a vice presidente da Argentina Cristina Kirchner sofreu um atentado parecido, sendo ameaçada à queima roupa com uma arma de fogo que falhou ao ser disparada. De acordo com investigações o suspeito responsabilizava Kirchner por dificuldades enfrentadas na Argentina.


Em 2018 Nicolás Maduro sofreu também ataque na Venezuela também de cunho politico organizados por desertores do Exército Venezuelano contrários ao governo. Ainda em 2018 no Brasil, com uma provável motivação politica, Marielle Franco teve seu carro alvejado no Rio de Janeiro em meio a avenida da região central da cidade. Dois suspeitos foram presos e negam o envolvimento no atentado que levou Marielle a óbito. No mesmo ano durante campanha presidencial Jair Bolsonaro foi atingido com por uma facada no estomago durante comício de campanha e Adélio Bispo de Oliveira foi preso em flagrante e após julgamento foi considerado incapaz, transferido posteriormente para um presidio que oferece tratamento para criminosos com distúrbios mentais.


Considerando os fatos citados anteriormente vemos um crescimento massivo neste tipo de crime de motivação politica em um espaço pequeno de tempo, sendo é notável a quantidade de incidentes ocorridos.


É triste pensar que o momento em que vivemos é tão delicado que uma simples discordância de viés e opinião pode causar a morte de um ser humano. É importante que idéias sejam discutidas de forma saudável pelos líderes passando este exemplo aos seus apoiadores, também conscientizando para que informações e dados sejam verificados pela população antes de julga-las como verdade absoluta, para que tais incidentes sejam evitados.



Texto escrito por Henrique Cunha

Profissional de TI, formado em Análise e Desenvolvimento de Dados. É um curioso nato, amante de música, filmes e séries do universo geek. Colunista de variedades do Zero Águia.

 

Fontes





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