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Análise nacionais e internacionais em um clique

O novo papa e o futuro da Igreja: O que esperar?

Robert Francis Prevost é o primeiro pontífice agostiniano e o segundo americano a ocupar o cargo, sendo originário de Chicago, Illinois. Mas o que significa “agostiniano”?  A Ordem de Santo Agostinho (OSA) é uma comunidade religiosa de tradição mendicante, fundada oficialmente em 1244 e presente hoje em mais de 40 países, abrangendo todos os continentes.


O Papa Leão XIV, trajando uma imponente túnica vermelha ornamentada com detalhes dourados, ergue sua mão direita em um gesto simbólico de bênção ou saudação. Sua expressão solene e postura reverente refletem o caráter cerimonial do momento.
Papa Leão XIV acena aos fiéis em sua primeira aparição pública / Foto: REUTERS/Yara Nardi

A eleição de Prevost rompe com um costume não escrito do Colégio Cardinalício, segundo o qual os candidatos ao papado costumavam surgir entre os clérigos seculares ou de outras ordens mais visíveis, como os jesuítas ou os franciscanos.


Robert Francis Prevost, nascido em 14 de setembro de 1955, é filho de Louis Marius Prevost e Mildred Martínez, possuindo ascendência francesa, italiana e espanhola. Graduado em Matemática e Filosofia pela Villanova University, ingressou no noviciado da Ordem de Santo Agostinho (OSA) em 1977. Após concluir sua formação em Teologia e Direito Canônico, foi ordenado sacerdote em 1982.


Robert Francis Prevost teve uma carreira significativa na missão agostiniana no Peru, atuando como diretor de formação, professor e vigário judicial. Entre 1999 e 2007, ocupou cargos importantes, incluindo o de prior geral da Ordem de Santo Agostinho.


Em 2014, foi nomeado bispo titular de Sufar e administrador apostólico da diocese de Chiclayo, no Peru, cargo que ocupou até 2015, quando foi nomeado bispo de Chiclayo pelo Papa Francisco.


Além de seu trabalho mencionado, Robert Francis Prevost foi eleito vice-presidente da Conferência Episcopal Peruana e integrou importantes congregações do Vaticano, incluindo a Congregação para o Clero e a Congregação para os Bispos.

Em 2023, foi nomeado Prefeito do Dicastério para os Bispos e presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, sendo promovido a arcebispo e criado cardeal no mesmo ano. Também participou de assembleias sinodais e foi membro de vários dicastérios vaticanos.


Seu lema episcopal é “In Illo uno unum”, reflete a unidade em Cristo. Ele tem desempenhado um papel ativo em eventos importantes do papado de Francisco, incluindo orações e celebrações em momentos de crise, como durante a hospitalização do Papa Francisco.


Sua trajetória é marcada por uma forte ligação com a missão agostiniana e uma liderança focada na sinodalidade — termo frequentemente utilizado pelo Papa Francisco, derivado do grego sínodo, que significa “caminhar juntos”—, além de um compromisso com educação e cultura.


O caminho até o conclave


Cardeais vestidos com tradicionais vestes vermelhas estão reunidos na Capela Sistina para um conclave. Sentados em longas mesas, examinam documentos diante de si. No centro do recinto, há um suporte dourado com um tecido branco sobre ele. O ambiente, ornamentado com afrescos e um altar com velas acesas, transmite solenidade e formalidade, destacando a importância do evento.
Os 133 cardeais na Capela Sistina durante o conclave — Foto: Reprodução / Vaticano

O termo conclave vem do latim cum clave, que significa "com chave", refletindo a tradição de manter os cardeais confinados durante o processo de escolha do novo Papa.

Os líderes da Igreja Católica se reuniram no Vaticano para o conclave, um processo confidencial pelo qual será eleito o sucessor de Francisco, o primeiro Papa latino-americano, que faleceu no dia 21 de abril de 2025, aos 88 anos, na segunda-feira de Páscoa.


Ao longo da história, os conclaves trouxeram mudanças significativas para a Igreja Católica, pois cada novo Papa deixa sua marca. Apenas os cardeais, dirigentes católicos com menos de 80 anos, podem votar. A escolha de um novo pontífice é considerada tanto um dever quanto uma responsabilidade espiritual. 

No passado, desacordos entre facções podiam prolongar os conclaves por meses. Desta vez, os cardeais se reuniram novamente na Cidade do Vaticano, um estado independente no coração de Roma, para eleger o 267º Papa. 

São Pedro, considerado o primeiro Papa pela tradição católica, foi escolhido por volta do ano de 30 d.C.


Dados relevantes sobre o processo  


Início do conclave: 7 de maio de 2025.

Duração do conclave: Segundo as normas vaticanas, o conclave deve começar entre 15 e 20 dias após a morte do papa, mas pode ser estendido até um máximo de 20 dias. Neste caso, decidiu-se iniciar o conclave em 7 de maio, após a morte de Francisco em 21 de abril.


Término do conclave: A duração do conclave pode variar, mas, nos últimos tempos, o novo papa tem sido eleito em poucos dias.


Nome e legado


O Papa Leão XIII está sentado com uma expressão serena, vestindo vestes papais tradicionais. Ao fundo, está a Encíclica Rerum Novarum, um documento histórico que aborda a condição dos operários e questões sociais do final do século XIX. A composição da imagem transmite solenidade e reforça a importância do texto para a Doutrina Social da Igreja.
Encíclica Rerum Novarum sobre a condição dos operários foi escrita pelo Papa Leão XIII, em 15 de maio de 1891. Foto: Vatican News

Embora não exista uma norma doutrinária que obrigue a troca de nome, a prática se tornou uma tradição há mais de um milênio. 

Praticamente todos os papas passaram a ser conhecidos por um nome diferente do seu de nascimento. 


Esse costume surgiu no início da Idade Média, sendo o primeiro a adotá-lo João II, que optou por abandonar seu nome de batismo, Mercúrio, por considerá-lo ligado à mitologia pagã. A partir de então, a prática se consolidou e ganhou especial importância quando com a eleição de pontífices não italianos: adotar um nome em latim ajudava a “disfarçar” suas origens estrangeiras e contribuía para que fossem melhor aceitos.


Em relação ao nome escolhido e sua história, Leão XIII (1878–1903) foi o último papa com esse nome até a eleição do atual e um dos mais influentes do século XIX. Autor da encíclica Rerum Novarum ("Sobre as coisas novas"), é considerado o pai da chamada “doutrina social da Igreja”.


Ele buscou reconciliar a Igreja com o mundo moderno, abordando questões trabalhistas, defendendo os direitos dos trabalhadores e propondo um novo papel para a Igreja na era contemporânea. Seu nome é amplamente valorizado por setores reformistas e sociais do catolicismo.


Os analistas especializados no Vaticano opinam que o mais provável é que o o novo Papa tenha se inspirado em Leão XIII, uma figura profundamente associada à justiça social, mas também à modernização prudente da Igreja. Sua escolha transmite uma mensagem de equilíbrio entre a postura reformista de Francisco e um perfil mais diplomático e conciliador.


A visão do novo papa


O Papa Leão XIV aparece sentado em uma postura solene, trajando suas vestes papais tradicionais. Seu olhar transmite um ar de contemplação e autoridade espiritual. O fundo da imagem reforça a atmosfera cerimonial, sugerindo um momento de reflexão ou uma ocasião importante dentro da Igreja.
Papa Leão XIV falando aos cardeais no Vaticano. — Foto: Vatican Media/­Handout via REUTERS

O Papa Leão XIV, apresenta uma abordagem que combina continuidade e mudança em relação ao legado de seu antecessor, Francisco. Embora mantenha o compromisso com questões sociais como migração e meio ambiente, adota posturas mais conservadoras em temas como diversidade sexual e o papel das mulheres na Igreja.


  • COMUNIDADE LGBTQ+

O Papa Leão XIV alinha-se à doutrina tradicional da Igreja, considerando a homossexualidade um pecado. Em um discurso proferido em 2012, dirigido a bispos, Robert Francis Prevost mencionou a “simpatia por crenças e práticas que estão em desacordo com o evangelho” como uma ameaça à vida cristã. Entre essas práticas, incluiu explicitamente “o estilo de vida homossexual” e a existência de “famílias alternativas formadas por casais do mesmo sexo e seus filhos adotivos”, segundo reportou a revista Newsweek.


Sua oposição ao ensino sobre diversidade de gênero também foi explícita durante sua atuação episcopal no Peru. De acordo com o The New York Times, Prevost rejeitou propostas educacionais do governo que promoviam a inclusão de conteúdos sobre identidade de gênero nas escolas.

Ele as classificou como “confusas”, argumentando que “criam gêneros que não existem”.

 Esse tipo de declaração tem sido utilizado por setores conservadores como defesa da doutrina tradicional, mas tem gerado preocupação entre defensores dos direitos humanos e grupos LGBTQ+. 


Em 2024, reconheceu os desafios culturais enfrentados por bispos africanos na aplicação de políticas sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, destacando que a realidade cultural em algumas regiões torna inviável a implementação dessas políticas. 


  • MIGRAÇÃO

O Papa Leão XIV tem uma postura de apoio aos migrantes, enfatizando a dignidade humana e a necessidade de acolhimento. Durante seu episcopado no Peru, demonstrou solidariedade com os mais de 1,5 milhão de venezuelanos que chegaram ao país, afirmando que "a migração é parte da missão de Cristo".


  • MULHERES NA IGREJA

Reconhece a contribuição significativa das mulheres na Igreja, mas mantém a posição tradicional de não ordenar mulheres ao sacerdócio. Em 2023, afirmou que "clericalizar as mulheres geraria novos desafios".


  • MEIO AMBIENTE

Demonstra continuidade com o legado ecológico de Francisco. Em 2024, durante um seminário, classificou o dano ambiental como um "pecado estrutural" e destacou que a crise não é apenas ambiental, mas também social, afetando principalmente os países do sul global.


  • ABORTO E EUTANÁSIA

O Papa Leão XIV mantém a posição tradicional da Igreja Católica, opondo-se firmemente tanto ao aborto quanto à eutanásia. Em 2021, apoiou uma carta dos bispos peruanos que criticava a decisão judicial que permitiu a eutanásia para Ana Estrada Ugarte, enfatizando que “a eutanásia sempre será o caminho errado, pois atenta contra o direito inalienável à vida".


Conclusão


O pontificado de Leão XIV sinaliza uma Igreja que busca  uma postura conciliadora, combinando tradição e pragmatismo, equilibrando compromissos sociais com posturas conservadoras em questões doutrinárias. 


Pode-se dizer que ele é considerado um progressista moderado, pois mantém sua fidelidade à doutrina tradicional da Igreja, ao mesmo tempo em que demonstra  um forte compromisso social. Sua trajetória foi,  sem dúvida, influenciada por sua experiência missionária no Peru.


Editorial Portal Águia



Revisão por Eliane Gomes

Edição por Eliézer Fernandes


Referências











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