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Resenha de "Híbridos" – David Thorpe

Capa do livro H[ibridos de David Thorpe. Uma figura encapuzada atrás de grades. Seu rosto está coberto por uma mascara com uma "smiley face".

Sinopse: Johnny Online e Kestrella são mutantes atacados por um vírus que faz suas vítimas se fundirem com aparelhos tecnológicos. Enquanto uma histeria toma conta do país eles vivem com o medo de serem apanhados e enviados para o misterioso Centro de Reabilitação Genética de onde ninguém jamais escapou. Uma história surpreendente de ficção científica contada pelo premiado David Thorpe.


Li esse livro em 2011, e resolvi trazer a resenha dele agora pois me parece extremamente adequada ao que vivemos hoje com a tecnologia!


“Híbridos” é um suspense de ficção científica de tirar o fôlego. David Thorpe constrói um cenário angustiantemente plausível, onde o corpo humano se funde com a tecnologia de maneira perturbadora. Consegue imaginar alguém com partes do corpo transformadas em dispositivos eletrônicos? Durante a leitura, é impossível não visualizar com nitidez essa realidade:


“Ela me deu uma rápida visão de seu braço, arregaçando a manga de seu casaco de alpaca para revelar um telefone celular que emergia de sua mão. Pude ver seu ponto de transição: o modo como a carne mudava de cor, textura e substância, onde a mão parava de ser mão.”

Assustador, não? Essa atmosfera me remeteu ao Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, não no estilo narrativo, mas na inquietação provocada. Ambos expõem mundos controlados por forças impessoais e hostis, que moldam os corpos e os destinos dos personagens com brutalidade silenciosa. A sensação de vulnerabilidade é constante.


O que mais me conquistou foi a maneira como Thorpe narra com tanta agilidade e precisão que é impossível desgrudar os olhos das páginas. A história de Johnny Online e Kestrella, dois adolescentes híbridos, é ao mesmo tempo eletrizante e profundamente humana. Eles enfrentam a rejeição, o medo e a intolerância enquanto tentam sobreviver, confiar e permanecer livres. O desfecho é inesperado e impactante, um daqueles finais que a gente precisa digerir em silêncio.


Embora escritos em contextos bem diferentes, os dois livros compartilham uma inquietação comum: o medo de um futuro onde a tecnologia e o controle social moldam profundamente o ser humano. Mas cada autor aborda essa distopia por caminhos distintos.


Em Híbridos, a tecnologia invade o corpo de forma literal. Os adolescentes começam a desenvolver mutações — como celulares que brotam dos braços — e são perseguidos por isso. A ameaça não vem apenas da transformação física, mas da reação da sociedade: medo, intolerância, exclusão. Já em Admirável Mundo Novo, a tecnologia é mais silenciosa, mas não menos opressora. Desde o nascimento, os indivíduos são moldados por manipulação genética, condicionamento psicológico e drogas que garantem uma “felicidade” artificial. Não há perseguição, porque não há resistência — todos foram ensinados a amar sua prisão.


O ritmo narrativo também difere bastante. Híbridos é ágil, direto, com cenas que lembram um filme de ação, enquanto Admirável Mundo Novo aposta em diálogos densos e reflexões filosóficas sobre liberdade, identidade e o preço da estabilidade.


Ambos os livros nos convidam a pensar sobre o que estamos dispostos a abrir mão em nome do progresso. Em Híbridos, o alerta é sobre a dependência tecnológica e a marginalização dos que não se encaixam. Em Admirável Mundo Novo, a crítica recai sobre uma sociedade que troca autenticidade por conforto — e liberdade por obediência.


No fundo, os dois autores nos mostram que o perigo não está apenas na tecnologia em si, mas na forma como ela é usada para controlar, excluir e silenciar. Seja pela força ou pela sedução, o resultado é o mesmo: uma sociedade que se afasta da empatia, da diversidade e da consciência.


Recomendo vivamente essa leitura. Além da narrativa envolvente, o livro provoca uma reflexão urgente sobre nossa dependência crescente da tecnologia e sobre o que sacrificamos, especialmente nos relacionamentos, por passarmos tanto tempo conectados. Quantas conexões reais estamos deixando para trás enquanto as digitais se multiplicam?


Texto escrito por Eliane Gomes

Uma leitora voraz de livros policiais. Já foi programadora e atuou como professora, tanto no ensino infantil como de música. Além disso é mãe, casada e colunista e revisora no

Portal Águia.




Revisão: Eliane Gomes

Edição: João Guilherme V.G.


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