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Burkina Faso: a Terra dos Homens Íntegros

Atualizado: 5 de ago.

Burkina Faso é um país localizado na África Ocidental, também conhecida como região do Sahel, devido às suas características ecológicas e climáticas singulares. A capital é Uagadugu (em francês: Ouagadougou), e o país faz fronteira com seis nações: Mali (a oeste), Níger (a leste), Costa do Marfim (a sudoeste), Benim (a sudeste), Togo e Gana (ao sul). Situado entre áreas áridas ao norte e savanas ao sul, a maior parte dos quase 24 milhões de habitantes enfrenta vulnerabilidades endêmicas, ligadas à agricultura de subsistência e a variações climáticas extremas.


Mapa mostrando Burkina Faso e seus vizinhos.
Mapa de Burkina Faso

Após a revolução que destituiu Jean-Baptiste Ouédraogo em 1983, Thomas Sankara assumiu a presidência e, em 1984, renomeou o país de “Alto Volta” para "Burkina Faso". O nome tem raízes em duas línguas nativas: "Burkina", da língua Mossi, que significa homens íntegros, enquanto “Faso", da língua Dioula, que significa país ou terra. Assim, “Burkina Faso” pode ser traduzido como “Terra dos Homens Íntegros”. O país conquistou a independência da França em 5 de agosto de 1960.


Instabilidade política e sucessão de golpes


Atualmente, Burkina Faso é liderado por Ibrahim Traoré, presidente de apenas 37 anos. Ele chegou ao poder após o golpe militar de 30 de setembro de 2022, que destituiu o então presidente Paul-Henri Sandaogo Damiba.


Foto de Ibrahim Traoré vestindo uniforme militar e em posição de continência.
Foto de Ibrahim Traoré, atual presidente de Burkina Faso.

Capitão do Exército, Traoré passou a comandar o país, cuja população gira em torno de 24 milhões de habitantes. 


O golpe liderado por Ibrahim Traoré foi o nono bem-sucedido desde a independência em 1960. Entre os principais episódios históricos do país estão os golpes de 1966, 1974, 1980, 1982, 1983, 1987, 2014 e 2015. Em seus 65 anos como Estado soberano, o país teve apenas um governo que completou um mandato de sete anos: o de Roch Kaboré, entre 2015 e 2022. Curiosamente, em 2022, Burkina Faso foi governado por três presidentes distintos: Roch Kaboré, Paul-Henri Damiba e Ibrahim Traoré.


Nos meses seguintes à sua ascensão, Traoré rompeu os laços de segurança e defesa com a França, culminando na retirada das tropas francesas em fevereiro de 2023. Em uma mudança estratégica, fortaleceu os laços com a Rússia e estabeleceu a Aliança dos Estados do Sahel com Mali (Coronel Assimi Goïta) e Níger (General Abdourahamane Tchiani), visando combater o jihadismo na região.


A visita de Estado de Ibrahim Traoré à Federação Russa, realizada entre os dias 8 e 11 de maio de 2025, foi marcada por rigorosas medidas de segurança. À época, circulavam informações sobre a possível atuação de grupos armados dentro do país e em nações vizinhas, como o Benim, que planejavam incursões militares com o objetivo de atingir populações civis e alvos estratégicos de defesa nacional.


A presidência de Ibrahim Traoré tem sido caracterizada pela repressão de diversas tentativas de golpe. As mais notórias ocorreram em 27 de setembro de 2023, quando a junta militar anunciou ter frustrado uma conspiração por parte de membros insatisfeitos das Forças Armadas. Em janeiro de 2024, novas prisões foram realizadas, envolvendo indivíduos acusados de planejar ações contra o presidente.


No dia 9 de dezembro de 2024, o então primeiro-ministro Apollinaire Joachim Kyélem de Tambèla foi acusado de conspirar contra o governo, sendo substituído por Rimtalba Jean Emmanuel Ouédraogo. Posteriormente, em 25 de maio de 2024, o regime militar anunciou a prorrogação do período de transição pré-eleitoral por cinco anos, com início em 2 de julho de 2024 e término previsto para 2029.


Reformas Socioeconômicas e Políticas 


Segundo o relatório de abril de 2024 do Grupo Banco Mundial, a economia de Burkina Faso cresceu 3,2% em 2023, mesmo diante da crise de segurança. A inflação caiu para 0,7%, com redução nos preços de produtos locais. Após um fraco desempenho em 2022 (1,8%), o PIB voltou a crescer, com avanço do PIB per capita em 0,6%. A crise de segurança, no entanto, continuou a impactar negativamente a economia.


Graças a uma temporada agrícola bem-sucedida, a inflação se manteve em queda no primeiro semestre de 2023, tornando-se negativa de maio a outubro. Ainda assim, a instabilidade do país afetou setores estratégicos como a mineração de ouro, que representa 77% das exportações, 16% do PIB e 22% da arrecadação do governo. O número de mortes relacionadas à segurança dobrou, atingindo 8.494 em 2023.


Pessoas carregando galões para coletar água de um reservatório
Foto de população buscando água.

A pobreza, que havia aumentado 1,8 ponto percentual entre 2018/2019 e 2021/2022 (atingindo 43,2%) manteve-se estável desde então, mas a situação humanitária permanece crítica, com cerca de 2,3 milhões de deslocados internos e aproximadamente 2,3 milhões enfrentando grave insegurança alimentar em dezembro de 2023.





Desafios regionais e ineficiência da assistência social


A perspectiva econômica de Burkina Faso continua sujeita a múltiplas incertezas relacionadas à dinâmica regional e aos riscos negativos decorrentes da insegurança, instabilidade política, choques climáticos e variações de troca.


No campo das reformas na assistência social, os gastos públicos representam cerca de 2,6% do PIB, um valor que, teoricamente, seria suficiente para reduzir pela metade a diferença de pobreza, estimada em cerca de 6% do PIB em 2021. Esses investimentos cresceram significativamente nos últimos 15 anos, passando de 0,3% do PIB em 2005, e estão acima da média registrada pelos países da África subsaariana.


No entanto, o impacto positivo é comprometido pela baixa eficiência do sistema, marcada por uma estrutura fragmentada. Na prática, os programas de assistência social não têm beneficiado prioritariamente os grupos mais vulneráveis: mais da metade dos beneficiários das diversas intervenções não está entre os mais pobres.


Políticas fiscais e reformas governamentais em prol do desenvolvimento


Em 2023, o governo de Burkina Faso suspendeu gradualmente programas que incluíam transferências monetárias, ainda que esses fossem os mecanismos de assistência social mais progressistas disponíveis no país.


O relatório do Grupo Banco Mundial recomenda a adoção de novas políticas para fortalecer a sustentabilidade macrofiscal e melhorar a assistência social. Entre as sugestões estão:

  1. Aumentar a eficiência da mobilização de receitas;

  2. Melhorar a eficácia da despesa pública;

  3. Mitigar os impactos econômicos decorrentes da saída da CEDEAO.


Além dessas, duas opções complementares são destacadas:

  1. Aperfeiçoar a focalização das políticas voltadas à pobreza;

  2. Otimizar a eficiência dos gastos com assistência social.


Nesse contexto, Ibrahim Traoré tem conduzido reformas profundas com foco na governança eficaz. Entre suas principais iniciativas estão: fortalecimento das Forças Armadas, promoção da estabilidade econômica, ampliação do apoio social às camadas mais vulneráveis da população, incentivo à educação e à saúde, com destaque para o ensino universitário e técnico gratuito aos melhores alunos, combate à pobreza e à corrupção, investimentos em agricultura, turismo, exploração mineral, e consolidação da segurança nacional e regional.


Diversificação econômica e mudança geracional no poder africano


No contexto do desenvolvimento socioeconômico, e diante da forte dependência da agricultura, Burkina Faso busca diversificar sua economia. Para isso, o país tem intensificado os investimentos no setor agrícola, com foco na segurança alimentar e na qualidade dos produtos, visando a exportação e a geração de empregos dignos e sustentáveis. 


Historicamente, a África tem sido marcada por lideranças de longa duração. Entre os presidentes mais longevos destacam-se:

  • Paul Biya dos Camarões (92 anos);

  • Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, da Guiné Equatorial (83 anos);

  • Denis Sassou Nguesso (82 anos);

  • Yoweri Museveni, do Uganda (81 anos);

  • Isaias Afwerki, da Eritreia (79 anos).


Contudo, observa-se uma mudança de paradigma. O continente vem sendo liderado, cada vez mais, por presidentes “jovens”, como:

  • Ibrahim Traoré, do Burkina Faso (37 anos);

  • Mahamat Déby, do Chade (41 anos);

  • Assimi Goita, do Mali (43 anos);

  • Mamady Doumbouya, da Guiné (45anos);

  • Bassirou Diomaye Faye, do Senegal, (45 anos).


Entre eles, Ibrahim Traoré se destaca como figura emblemática, dado os inúmeros desafios enfrentados durante o seu mandato: tentativas de golpe de Estado, dificuldades socioeconômicas, esforços de unificação nacional e articulação estratégica no plano regional.


Seu compromisso com a governança, o fortalecimento institucional e o desenvolvimento de Burkina Faso tem lhe rendido reconhecimento de diversas figuras nacionais e internacionais. Com isso, o país vai, pouco a pouco, consolidando-se como uma verdadeira “Terra dos Homens Íntegros”.


Isaac Jorge - É licenciado no Curso de Relações Internacionais pela Universidade Privada de Angola e trabalhou durante alguns anos na Missão Diplomática da República de Angola em Pretória - África do Sul. Além a experiência diplomática, nos últimos 18 anos tem estado ligado a atividade bancária, tendo assumido várias responsabilidades tais como Subdiretor na Direção de Desenvolvimento de Negócios Internacionais, onde desenvolveu-se estudos para internacionalização do banco. Foi chefe de Departamento da banca de investimentos e Chefe de Departamento da Direção de Organização e Qualidade. Tem estado ligado a diferentes projetos de desenvolvimentos e de melhorias de produtos e serviços bancários e na formação de técnicos trabalhadores. É amante de esportes, principalmente o futebol.



Revisão: Eliane Gomes

Edição: João Guilherme

Referências



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