Fake News: A tragédia por trás da desinformação
- Kauan Oscar
- 14 de ago.
- 3 min de leitura

As fake news, ou notícias falsas, não são um fenômeno recente. No entanto, a forma como se propagam no mundo digital tem preocupado especialistas e jornalistas. Com o avanço das redes sociais, a desinformação ganhou força e tornou-se um desafio global para veículos de comunicação e para a sociedade.
Donald A. Barclay, bibliotecário e autor especializado em informação digital afirma:
“A desinformação não é novidade. O que é novo é a rapidez e a amplitude com que ela pode se espalhar graças à internet e às mídias sociais”,
Segundo ele, a velocidade com que boatos e informações manipuladas circulam dificulta a checagem e confunde a opinião pública.
Plataformas como X (antigo Twitter), Facebook e outras redes sociais possibilitam que qualquer pessoa, mesmo sem se identificar, compartilhe conteúdos que atingem milhares — ou até milhões — de usuários em segundos. Com isso, montagens, textos manipulados e boatos passaram a fazer parte da rotina digital.
Para o jornalista e escritor britânico Matthew d’Ancona, a crise da verdade é um dos maiores dilemas da atualidade.
“A verdade deixou de ser um consenso coletivo e passou a ser uma escolha individual”
Esse cenário abriu espaço para que grupos formassem suas próprias bolhas informacionais, sustentadas por teorias sem base científica, como o terraplanismo e os movimentos antivacina.
O termo "fake news" ganhou notoriedade em 2016. Nos últimos anos, a propagação de notícias falsas tem causado danos irreparáveis em diversas partes do mundo. Em alguns casos, a desinformação ultrapassa os limites do virtual e resulta em mortes trágicas. A seguir, três episódios emblemáticos mostram o impacto fatal que boatos sem fundamento podem provocar na sociedade.
Caso Fabiane Maria de Jesus – Brasil (2014)

Em maio de 2014, a dona de casa Fabiane Maria de Jesus foi brutalmente linchada por moradores do bairro Morrinhos, no Guarujá, litoral de São Paulo. A violência foi motivada por uma notícia falsa que circulava nas redes sociais. O boato alegava que uma “bruxa” estaria sequestrando crianças para rituais de magia negra, acompanhado por uma imagem que, segundo os agressores, se assemelhava à de Fabiane.
Sem qualquer prova ou verificação, a população decidiu fazer justiça com as próprias mãos. Fabiane foi espancada em plena luz do dia e morreu dois dias depois no hospital. O caso teve grande repercussão nacional e expôs a força destrutiva das fake news quando aliadas à desinformação e ao medo coletivo.
Cloroquina e Ivermectina na Pandemia – Brasil (2020–2021)
Durante os anos críticos da pandemia de COVID-19, o mundo buscava desesperadamente tratamentos eficazes contra o novo coronavírus. Nesse cenário, surgiram diversas informações falsas sobre medicamentos que supostamente preveniam ou curavam a doença. No Brasil, a cloroquina e a ivermectina foram amplamente promovidas por políticos e apoiadores como “soluções milagrosas”, apesar da ausência de comprovação científica.

Mesmo após alertas das autoridades de saúde, muitos brasileiros continuaram utilizando os medicamentos de forma indevida. Um dos casos mais chocantes foi o de um homem do interior do país que morreu por overdose de ivermectina. O nome e a localização da vítima nunca foram divulgados oficialmente, mas o caso é citado por especialistas como exemplo dos perigos do uso não supervisionado de fármacos, motivado por desinformação.
Linchamentos em Massa na Índia – (2017–2018)
Na Índia, entre os anos de 2017 e 2018, um boato que circulava em grupos do WhatsApp relatava a presença de supostos sequestradores de crianças em diversas regiões do país. A histeria coletiva gerada por essas mensagens resultou em uma série de linchamentos públicos.
Estima-se que mais de 30 pessoas foram mortas por grupos de cidadãos que, baseando-se unicamente em informações falsas, decidiram agir por conta própria. A onda de violência forçou o governo indiano a pressionar a Meta, empresa responsável pelo WhatsApp, a tomar medidas para conter a disseminação de conteúdo enganoso, incluindo a limitação do número de encaminhamentos de mensagens no país.
Boatos inofensivos? Caos social.
Casos como esses revelam que as fake news não são meramente boatos inofensivos. Elas podem gerar medo, caos social, crises de saúde pública e, em muitos casos, levar à morte de inocentes. Especialistas alertam para a importância da verificação de informações antes de compartilhá-las, especialmente em tempos de polarização e incerteza.
A desinformação, quando combinada à velocidade das redes sociais, pode ser tão letal quanto qualquer arma — e combater seu avanço tornou-se um dos maiores desafios do nosso tempo.
Texto escrito por Kauan Oscar
Estudante de Jornalismo, apaixonado por esportes e literatura, encontrou na profissão uma oportunidade perfeita para contar sobre suas paixões por meio de histórias que inspirem outras pessoas.
Revisão por Eliane Gomes
Edição por João Guilherme V.G