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Pepe Mujica - O Jardineiro da Esperança

José Alberto Mujica Cordano, mais conhecido como Pepe Mujica, nasceu em 20 de maio de 1935 na cidade de Montevidéu, Uruguai, na região de Paso de la Arena. Essa região, localizada na parte ocidental da cidade, era um ponto de convergência de imigrantes italianos, portugueses e japoneses, que se dedicavam a diversas atividades ligadas à terra, como o cultivo de flores, o processamento de azeite e o curtimento de couro.

epe Mujica, em foto do Poder 360.
Pepe Mujica, em foto do Poder 360.

Pepe foi o primeiro filho de Lucila Isabel Cordano Giorello, filha de imigrantes italianos, e de Demétrio Mujica Terra, de origem basca. Seu pai era um pequeno agricultor que acabou indo à falência pouco antes de falecer, em 1943, deixando sua esposa Lucy com dois filhos: Pepe, então com 8 anos, e Maria Eudoxia Mujica Cordano, de apenas 2 anos.


Após a falência e o falecimento do marido, Lucy passou a trabalhar com o cultivo de flores para sustentar a família, contando com a ajuda de Pepe, que, após as aulas, vendia flores para as floriculturas e feiras de bairro. Ele chegou a cursar Direito, mas não concluiu a graduação.


    Mujica e suas flores — Foto: Bia Roscoe
Mujica e suas flores — Foto: Bia Roscoe

Seu envolvimento com a política é algo que vem de família, pois seu tio materno, Angel Cordano, era nacionalista e simpatizante do peronismo, tendo exercido grande influência na formação política de Mujica. Por intermédio de sua mãe, Mujica conheceu o então deputado nacionalista Enrico Erro. A partir de então, passou a militar no Partido Nacional, chegando a ocupar o cargo de secretário-geral da Juventude Nacionalista.


Em 1958, Enrico Erro foi nomeado ministro do Trabalho, contando com a companhia de Pepe Mujica. Em 1962, ambos romperam com o Partido Nacionalista e fundaram a Unión Popular, em conjunto com o Partido Socialista do Uruguai e o Grupo Nuevas Bases.


No contexto da Guerra Fria, a América Latina foi palco de intensa disputa e instabilidade política e econômica, e o Uruguai não foi exceção.


José Pepe Mujica, guerrilheiro Tupamaro: 15 anos na prisão e futuro presidente do Uruguai (Foto: Memorial da Democracia)
José Pepe Mujica, guerrilheiro Tupamaro: 15 anos na prisão e futuro presidente do Uruguai (Foto: Memorial da Democracia)

Assim, na década de 1960, Pepe Mujica aderiu ao Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros (MLN-T), um grupo de guerrilha urbana que realizava diversas operações, incluindo roubos e sequestros. No entanto, o grupo ficou mais conhecido por assaltar bancos e distribuir alimentos aos mais pobres.


Durante sua atuação no MLN-T, Mujica foi baleado e preso. Ele conseguiu fugir da prisão duas vezes, mas, ao ser recapturado em 1972, foi submetido à torturas e ficou preso por 12 anos. Com a redemocratização do país, foi libertado em 1985, após o decreto de anistia.


Pepe Mujica retornou à política ajudando a fundar o Movimento de Participação Popular (MPP), que se tornou uma das principais forças dentro da Frente Ampla. Em 1994, foi eleito deputado por Montevidéu. Em 1999, assumiu o cargo de senador e, em 2004, foi reeleito, tornando-se o senador mais votado da história do país. Em 29 de novembro de 2009, Mujica venceu as eleições presidenciais do Uruguai com 52,60% dos votos válidos, marcando o início de uma nova era democrática para o país.


Como ele próprio dizia, ao ocupar o cargo de presidente, não permitiu que suas lutas e crenças fossem corrompidas pelo poder. Liderou com simplicidade e coerência, mantendo-se fiel ao seu discurso. Seu plano de governo estabeleceu como prioridades estratégicas a educação, a segurança pública e o meio ambiente, com forte ênfase na erradicação da pobreza extrema e na redução da desigualdade social.


Os resultados de sua política entre 2004 e 2014 foram significativos: a taxa de pobreza caiu de 40% para 11%, o desemprego reduziu de 13% para 7% e o salário mínimo acumulou um aumento real de 250%. Mujica também fortaleceu os sindicatos e a negociação coletiva. No setor ambiental, conseguiu transformar o Uruguai em um líder em energia renovável, com 98% da matriz energética proveniente de fontes limpas, distribuídas da seguinte forma: hidrelétrica (45%), eólica (32%), biomassa (17%) e solar (3%).


Suas reformas sociais e legislativas mais relevantes foram: 


  • A legalização do aborto até a 12ª semana de gestação, aprovada em outubro de 2012 após intenso debate no Parlamento. O projeto, que havia sido vetado em 2007 pelo então presidente Tabaré Vázquez, foi retomado pela Frente Ampla e sancionado por Mujica. 

  • A aprovação do casamento igualitário em abril de 2013, permitindo o matrimônio civil entre pessoas do mesmo sexo, com direitos plenos, incluindo adoção e a escolha da ordem dos sobrenomes dos filhos.]

  • A regulamentação da produção, distribuição e venda de maconha recreativa em dezembro de 2013, transformando o Uruguai no primeiro país do mundo a estatizar integralmente o mercado da cannabis para uso recreativo.


Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica (Foto: Ricardo Stuckert)
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica (Foto: Ricardo Stuckert)

Pepe Mujica ganhou notoriedade internacional por abrir mão do palácio presidencial, optando por continuar vivendo em seu sítio. Além disso, doava 90% de seu salário para obras de caridade e mantinha seu estilo de vida simples, dirigindo seu Fusca azul de 1978 e utilizando sua bicicleta.


Para muitos jovens, o querido agricultor de flores plantou um jardim de esperança, amor, compaixão e empatia, transmitindo a ideia de que o mundo deve ser um lugar melhor para todos. Defendia que todos têm direito à educação, moradia, alimentação e segurança, e que ainda existem pessoas dispostas a lutar por um mundo mais digno para todos.


Texto escrito por Camila Bellato

​Formada em Relações Internacionais com Pós Graduação em Gestão Econômica. Especialista em Direitos Humanos e grande entusiasta das politicas públicas baseadas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ONU).



Revisão por João Guilherme Grecco

Edição por Eliézer Fernandes

Dica:


cartaz do filme Uma Noite em 12 anos




















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