“A favela venceu” é uma frase gostosa de falar.
Ela ressoa como música no ouvido de quem é pobre. Alguns venceram de fato. Mas quantos?
Algumas dúzias de favelados, entre milhões de brasileiros que continuam sem vencer. Óbvio que ficamos felizes com a vitória dos nossos irmãos, eles furaram a bolha. Geralmente jogador de futebol ou Mc. A questão é que eles são apenas atores dessa pornografia chamada meritocracia.
Ficam ricos, contam suas histórias tristes e de superação em entrevistas, nas redes sociais e em podcasts. Agora se vestem com as marcas caras, dirigem os carros do ano e frequentam os melhores restaurantes. Isso é extremamente motivador. O menor que veio da mesma realidade que ele acredita que é realmente possível também ostentar a mesma vida.
Entenda, não estou nem de perto colocando esses que venceram como culpados. Até porque muitas vezes nem eles entendem o que há por trás deles. É necessário que eles vençam, que eles ostentem o que a maioria não poderá comprar e que contem detalhe por detalhe de como eles trabalharam duro para sair da miséria e conquistar tudo isso.
Quando o jovem vê uma história dessas e não consegue progredir na vida, o fracassado é ele, a culpa é exclusivamente dele que não trabalhou o suficiente para conquistar o mesmo sucesso. A frustração chega. A ansiedade aumenta e cada vez mais ecoa na mente que é sua própria culpa.
O que seria a favela vencer?
Obviamente não tem como todo mundo ficar rico, tem que viver em ilusão para acreditar nisso. Para a favela vencer, minimamente precisa de dignidade. Saneamento básico, alimento, segurança física e emocional.
Não tem como metade da favela ser Mc e a outra metade jogador de futebol, não tem espaço para todo mundo. Para a favela vencer precisa ser através do trabalho convencional, mas não da forma como é feita. Poucos sabem trabalhar de verdade, mas porque foram ensinados assim.
A mão de obra fica mais barata se a população não for capacitada, então se uma pessoa não se sujeita a fazer determinado trabalho, sempre existe alguém precisando mais que vai aceitar. A solução é o conhecimento e é por isso que a favela não vai vencer. Pelo menos não por enquanto.
Mesmo que o conhecimento chegasse, mesmo que as bolsas gratuitas nas universidades fossem duplicadas, triplicadas ou até tivesse faculdade de graça para todo mundo, a favela não venceria. Esse conhecimento chega totalmente elitizado. A base de formação da favela é tão fraca que mesmo tendo acesso ao conhecimento, grande parte não conseguiria entender.
Pela falta de nutrientes na alimentação ao longo da vida, pela falta de estímulo intelectual e pela falta de tempo por ter que trabalhar desde cedo para ajudar em casa.
É muito fácil falar de sistema, de governo, de capitalismo ou qualquer outro culpado pela situação que a favela vive. É fácil querer que os culpados resolvam, chega a ser engraçado esperar isso.
Até quando eles implementam uma possível solução, é apenas um nível mais sofisticado de manter toda a massa controlada sustentando a vida que poucos conseguem levar.
É apenas mais um Mc sendo patrocinado por grandes marcas e dando a falsa esperança de que é possível.
Qual a solução?
Você é a solução!
Se você consegue estudar, você faz parte da solução. Basta nós, os poucos que furam a bolha intelectual que a favela vive, simplificar o conhecimento. É um jogo de longo prazo, de muito longo prazo. A favela não vai vencer, se não quiser vencer.
E não falo de meritocracia, falo de plantarmos para a próxima década.
Não basta se formar, conseguir um cargo razoável em uma empresa razoável e viver o resto da vida ganhando três ou quatro mil reais por mês. Lembra de antes? Quando você que trabalhava para sustentar o estilo de vida de outras pessoas. Agora seu estilo de vida já representa apenas 10% da população brasileira e outros estão sustentando seu estilo de vida, pessoas que vieram do mesmo lugar que você.
A solução não vai vir de cima, ela virá de baixo.
Precisamos facilitar o conhecimento para as crianças e adolescentes conseguirem terem perspectiva de futuro, que a única referência deles não seja apenas no esporte e na música. É importante tê-los como referência, mas o dia a dia acontece pelos operários, atendentes, professores, recepcionistas, encanadores, etc, etc e etc.
Que sejamos referência para os nossos, que a gente permita a favela vencer.
Te incluo nisso, se mexa.
Ou você joga junto ou você joga contra.
Texto escrito por Fellipe Barcelos
Barcelos é Influenciador Digital, cria de quebrada e lidera um movimento para pessoas que desejam ser melhores para si e para sua família. Acredita que o conhecimento salvará o povo e atualmente é colunista do Portal Águia.
Revisão por Eliane Gomes
Edição por Felipe Bonsanto
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