top of page

Como são feitas as Pesquisas de Opinião?



O objetivo deste artigo é esclarecer alguns conceitos técnicos sobre Pesquisas de Opinião. Continuando com o que foi exposto no artigo Pesquisas de Opinião e a Política, é necessário explicar como é que são feitas as pesquisas de opinião e especificamente as eleitorais. Mas antes de avançar, é vital pensar sobre o conceito “estrela”: a opinião pública. Ela pode ser definida como as atitudes, os desejos e os pensamentos da maioria das pessoas, sendo levada em consideração como a opinião coletiva em relação a um assunto ou problema tem a característica de ser complexa, dinâmica, influenciável e multifacetada.


A importância das pesquisas de opinião encaixa com o fato de que elas fazem possível o entendimento do comportamento do público alvo, ou seja, da população de interesse, embora não seja viável entrevistar absolutamente todas as pessoas. Tendo isso em vista, as pessoas pesquisadas, as que respondem perguntas e questionários, compõem a amostra, e os dados coletados produzem a informação que será utilizada para explicar a opinião de toda a população e não somente as pertencentes à amostra.


Como mensurar a opinião pública?


Em relação ao processo de mensurar a opinião pública, ele pode ser pensado em três seções: planejamento, execução e análise dos dados. Inicialmente e devido a fatores importantes que determinarão a efetividade da pesquisa em mensurar a opinião pública, a pesquisa deve ser planejada. Planejar cada um dos estágios é essencial para realizar uma boa pesquisa, e parte desse planejamento implica ter precaução, evitar erros e o viés que podem-se introduzir nela. De modo geral, os erros são o resultado de observação e de não observação.




Os erros de observação, referem-se aos erros relacionados com o questionário, como também do entrevistador ou do próprio respondente. Alguns deles podem ser erros devido a um questionário mal formulado, intenção de voto estimulada, a aplicação incorreta do questionário, e responder equivocadamente (com ou sem intenção). Isso deixa evidente que questões sutis podem alterar bastante o resultado da mensuração da opinião. A respeito dos erros de não observação, eles são três: amostral, de cobertura e de não resposta.


Na realidade, praticamente toda pesquisa terá um erro amostral, pois é baseada em uma amostra de população alvo, enquanto os resultados são generalizados. Os erros de cobertura acontecem quando as pessoas são excluídas da população à qual pertencem sem puder ser parte da amostra. Por último, os erros de não resposta, sucedem quando não é possível mensurar as opiniões de interesse. A não resposta surge quando uma pessoa se recusa a responder uma pergunta específica. Os erros descritos tem o fim de informar os tipos de erros existentes numa pesquisa. Mesmo com o questionário bem desenhado, com entrevistadores treinados, com respondentes achados de forma fácil e predispostos a responder e usando listagens abrangentes e novas para minimizar o erro amostral, erros e vieses na pesquisa serão achados. Eles são inevitáveis.


Por causa disso, a amostra desenhada no início não é aquela que será observada ao final da coleta de dados pois os erros têm impacto direto, e essa distorção na amostra pode ser corrigida, mas é necessário fazer suposições sobre os vieses causados pelos erros. Existem várias técnicas para ajustar esses erros, mas a técnica mais utilizada é a ponderação, ela tem a característica de ser flexível e de fácil espalhamento, já que o ajuste final é codificado juntamente com o banco de dados. Para isso, se adiciona à base de dados da pesquisa uma variável de peso, que conterá todos os ajustes necessários. Assim, para que os ajustes sejam aplicados, basta calcular os resultados ponderados por essa variável de peso. A efetividade dela depende das variáveis utilizadas e das suposições feitas para corrigir o viés.


Tipos de Pesquisas


Em relação aos tipos de pesquisas, a maioria são feitas presencialmente ou por telefone. O Datafolha faz as pesquisas de modo presencial e escolhe locais movimentados, o IPec (ex Ibope) vai até a casa do eleitor, e outros como PoderData, fazem por ligação, tendo os números selecionados aleatoriamente, e ao mesmo tempo com a exigência de que a pessoa tenha um telefone ou aparelho. Em menor grau, são feitas pesquisas pela internet. De acordo com o analista de dados Daniel Marcelino, das 209 pesquisas de intenção de voto para presidente (Brasil, 2022), 56% foram feitas de modo presencial, 43% por telefone e apenas 1% pela internet. Mas quem pode fazê-las?


Conforme a Lei das Eleições n° 9504/1997, as pesquisas de opinião pública podem ser feitas por qualquer instituição ou empresa que tenha um profissional da área de estatística como responsável. Elas têm que ser registradas (mesmo se os resultados não são divulgados publicamente) num sistema de registro de pesquisas eleitorais chamado PesqEle, cinco dias antes da divulgação dos resultados. Se o registro não for feito, as empresas terão penalidades que vão de pagamento de multa até detenção.


Fazer pesquisas num país com dimensão continental não é fácil, adicionando a dificuldade de entrar em contato com as pessoas, de ter a atenção delas, de medir corretamente sua opinião, e de analisar os resultados para representar a população. Esta tarefa exige inúmeros profissionais de diferentes áreas, tempo, experiência e dinheiro mas é possível de ser executada com sucesso.


Se você leitor, tem o objetivo de fazer pesquisas de opinião, este artigo breve pode esclarecer suas ideias e auxiliá-lo no assunto. No entanto, se você consome as pesquisas o texto pode ajudá-lo a compreender melhor os aspectos que afetam a qualidade delas. Só lembre que, as pesquisas de opinião são diferentes entre si porque não existe uma metodologia única ou melhor. As pesquisas podem formar nossas próprias opiniões, ajudar a entender como a população pensa e para decidir questões políticas, mas não temos que basear nossa opinião apenas numa pesquisa porque ela é realizada em um único momento do tempo. O espírito crítico deve se manter além de tudo.



Texto escrito por Soledad Bravo

Escritora, editora e coordenadora da equipe "La Nación" no Observatório de Política Exterior Argentina (OPEA) e membro da Rede de Cientistas Políticas. Além disso, tem uma extensa carreira na área acadêmica; tem Licenciatura em Ciência Política, Doutoranda em Ciência Política (UFPE), Magister Internacional em Gestão de ONGs, Gestão de Voluntariado e Cooperação Internacional (Centro UNESCO) e é Bolsista da Organização dos Estados Americanos (OEA). Ama o Twitter e para encontrá-la pela rede procure por: @sooledadbravo

 

Fontes


EL-DASH, Neale Ahmed. Avaliação metodológica das pesquisas eleitorais brasileiras. 2010. Tesis Doctoral. Universidade de São Paulo.


RIBEIRO, Amanda e MENEZES, Luiz Fernando. Como são feitas as pesquisas eleitorais. 2022. Aos Fatos.

bottom of page