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Foto do escritorKatiane Bispo

O Olimpo da Era Moderna

Atualizado: 15 de ago.

Que me perdoem os amantes do futebol, mas nenhum evento esportivo internacional é tão emocionante e contagiante como as Olimpíadas.


Essa visão, confesso, é parcial de uma ex-atleta que, por um curto espaço de tempo, sonhou em um dia representar o Brasil na seleção feminina de handebol, na minha absoluta ingenuidade juvenil, em uma época onde a palavra “patrocínio” era algo distante demais para a minha realidade e de tantas outras meninas.

Jogadora de handbol Mariane Fernandes em espaço de treino
Nascida em Anchieta, comunidade no Rio de Janeiro/RJ, a jogadora Mariane Fernandes compete em sua primeira Olimpíada pela seleção brasileira de handebol — Foto: Alexandre Loureiro/COB

Preciso reconhecer que muitas delas eram muito mais habilidosas do que eu naquele esporte. Por isso, o choro da jogadora Mariane Fernandes (28) é também a representação do sonho de tantas que almejaram um dia competir e subir ao pódio nas Olimpíadas, mas ficaram pelo caminho.


Essa é a magia das Olimpíadas: elas conseguem emocionar não apenas pelos corpos treinados, repletos de técnica e músculos, mas também pelas histórias de superação dos atletas. A caminhada de cada um deles consegue mexer conosco, e é quase impossível não criar uma identificação pessoal quando sabemos os desafios ultrapassados nos bastidores das competições.


Quando um atleta se machuca no meio de uma competição, há na plateia um silêncio sepulcral, como se aquela frustração atingisse também a todos nós. O choro em uma derrota significa uma vida dedicada a algumas horas de competição, que por qualquer deslize (humanamente possível) pode significar um sonho arruinado ou, nos melhores cenários, adiado.


Foi exatamente isso que ocasionou o choro desesperado da judoca japonesa Uta Abe, medalhista de ouro nas Olimpíadas de Tóquio 2020, quando perdeu a invencibilidade em suas lutas, que sustentava há 5 anos. Mas não foi o dia de glória para Abe, que perdeu para a uzbequistanesa Diyora Keldiyorova. O pódio é viciante, mas nem todos podem ocupá-lo sempre. Foi assim que Abe, eliminada nas oitavas de final em Paris, aprendeu essa dura lição.

Judoca Uta Abe sendo auxiliada pelo treinador ao sair do espaço de luta
A judoca Uta Abe precisou ser consolada pelo técnico e saiu aplaudida pela plateia. Foto: REUTERS/Kim Kyung-Hoon

Se por um lado a frustração da derrota é desoladora, os recordes olímpicos são o gás motivador para todas as modalidades.  Eles não são apenas um retrato estático de um momento de superação do corpo humano, mas também a amostra de como a inteligência emocional do atleta em momentos de exaustão e fadiga pode ser decisiva.


O gigante velocista olímpico jamaicano Usain Bolt disse certa vez:

“Sempre há limites. Eu não conheço os meus.”
Corredor Bolt olhando para o seu oponente e brinca com o dedo no ar
Bolt brinca com adversário durante a prova (Divulgação)

E nós sabemos que limites não são o forte do Bolt, pois quando é ele o adversário, a pista fica apequenada pelo seu brilhantismo e carisma. Até começamos a acreditar que correr 100m em menos de 9,6 segundos é algo corriqueiro.


Se por um lado, os recordes olímpicos e a fama do atleta trazem credibilidade e favoritismo, não devemos nos esquecer dela, a mais temida de todas: a zebra! Para quem não sabe, a zebra, não o animal, mas a gíria esportiva, é usada para nomear uma realidade inesperada em uma competição.


Mas nem sempre a zebra é negativa; pelo menos não foi o que aconteceu com o atleta de salto com vara Thiago Braz, que levou o Brasil literalmente às alturas nas Olimpíadas do Rio em 2016 e ficou com a medalha de ouro, desbancando o arrogante francês Renaud Lavillenie, que era não apenas o recordista olímpico como o favorito na modalidade.


Thiago perdia para o francês quando olhou para o lado e viu o adversário comemorar com a equipe a vitória. Ele acabara de saltar 5,98m e acreditava que o brasileiro não conseguiria ultrapassar a marca. Mas não foi o que aconteceu. O brasileiro inverteu o jogo, apostou tudo e subiu o sarrafo para 6,03m, altura nunca ultrapassada por ele.

Thiago Braz comemorando a medalha de ouro ao lado do segundo lugar, francês Renaud Lavillenie, decepcionado pela posição
A maior zebra ficou com o arrogante francês Renaud Lavillenie, que foi vencido por Thiago Braz e vaiado pela torcida (Reprodução)

Lavillenie ainda tentou ultrapassar a marca do brasileiro e jogou a altura para 6,08 m, mas falhou nas duas tentativas. O resto ficou para a história, com Thiago conquistando o ouro inédito para o Brasil no salto com vara.


Tenho inúmeras críticas e pontos importantes a fazer sobre o evento, mas desta vez quero apenas celebrar a magia das Olímpiadas, em um momento onde temporariamente as diferenças entre as nações são disputadas em competições e que acabam com apertos de mão e abraços respeitosos entre eles. Muitos vibram com a festa que só o esporte é capaz de proporcionar, mesmo que seja por alguns dias e a cada quatro anos.


CURIOSIDADE OLÍMPICA


Os Jogos Olímpicos de Verão (Olimpíadas) são um dos maiores eventos esportivos do mundo, realizados a cada quatro anos em diferentes países.  A primeira edição moderna ocorreu em 1896, em Atenas, inspirada nos antigos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga. É por isso que, em todas as edições, a delegação grega entra primeiro na cerimônia de abertura.

Foto do Barão Pierre de Coubertin
O barão francês Pierre de Coubertin é considerado o fundador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna (Imagem: Dutch National Archives via Wikimedia Commons)

O polêmico Pierre de Coubertin, um aristocrata francês com visão cosmopolita era um ex-atleta, foi o principal responsável pela retomada dos Jogos na era moderna. Desde então, os Jogos cresceram significativamente, incluindo centenas de eventos e milhares de atletas de mais de 200 países. A inclusão de mulheres começou somente em 1900, e hoje quase metade dos competidores são mulheres.


Texto escrito por Katiane Bispo

Formada em Relações Internacionais, especialista em Políticas Públicas e Projetos Sociais. É podcaster no O Historiante, colunista no jornal Portal Águia e ativista em causas ligadas aos Direitos Humanos, Gênero e Raça. Instagram: @uma_internacionalista



Revisão por Eliane Gomes

Edição por Felipe Bonsanto


 

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