O Porto de Santos, fundado em 1892 pela Companhia das Docas de Santos, é conhecido como o maior porto da América Latina. Esse porto gigante abrange três cidades da baixada santista, região sudeste litoral de São Paulo, são elas as cidades de Santos, Guarujá e Cubatão sendo a margem direita do porto na cidade de Santos área insular, e a margem esquerda Cubatão, área continental de Santos e Ilha de Santo Amaro no Guarujá.
Os números do gigante impressionam, são mais de 13 quilômetros de extensão, movimenta ¼ ou 25% de tudo o que é importado e exportado em cargas no Brasil, são bilhões de toneladas movimentadas em mais de 5 milhões de containers todos os anos, além dos ricos e imponentes navios de cruzeiros que transportam centenas de milhares de passageiros nas temporadas. O Porto que é fundamental para a logística do País realmente impressiona, mas não é sobre os números do rico porto de Santos que vou falar, quero mostrar o quanto a riqueza portuária diverge com o que há em sua volta.
Sítio Conceiçãozinha
Ocupado em meados de 1920 pelas primeiras 8 famílias, o sítio Conceiçãozinha que faz parte do bairro Vicente de Carvalho, na margem esquerda na cidade de Guarujá, nem de longe lembra o início da ocupação, as casas eram grandes, mesmo sendo de madeira eram grandes e com o mínimo de estrutura.
Com o aumento da ocupação do território, houve um período em 1970 que as autoridades para controlar as construções, instalou uma guarita com segurança na única entrada de terra que leva para a comunidade, impedindo que moradores fizessem melhorias em suas residências, depois de um tempo retiraram a guarita e com a ausência de políticas habitacionais e controle do poder público, houve uma ocupação desenfreada, e a construção de palafitas em cima do mangue, onde vivem atualmente cerca de 1.700 famílias, cerca de 6 mil pessoas.
Infelizmente as pessoas que ali vivem são expostas a contaminação por metais pesados, sofrem com a ausência de políticas públicas, a comunidade que fica dentro do Porto de Santos na margem esquerda no Guarujá, é cercada por navios e do outro lado pelos trens de carga.
Desigualdade
Se por um lado há a riqueza do porto, do outro lado há uma comunidade abandonada, esquecida pelo poder público e além disso, ameaçada pela expansão do porto que de tempos em tempos ameaçam retirá-los. O mais recente episódio é a expansão dos atracadouros de um terminal, essa obra ameaça fechar a única saída para o mar, prejudicando os moradores e principalmente os pescadores que fazem a pesca artesanal, entidades e associação de pescadores e moradores acionaram o MP solicitando a imediata paralisação das obras.
O que torna mais curioso é que a autoridade portuária divulga em seus balancetes lucros com recordes de arrecadação, mas junto das autoridades federais, estaduais e municipais, não criam políticas públicas, um plano para ao menos reassentar as famílias que construíram sobre o mangue e vivem de maneira insalubre. A criminalidade também faz parte da comunidade, traficantes internacionais de drogas usam a comunidade pela proximidade com o porto, esse fato exige ainda mais políticas públicas, como as habitacionais e sociais. A relação do porto com as cidades e principalmente com a comunidade do sítio Conceiçãozinha precisa ser aprimorada, um olhar mais humano para o desenvolvimento social deve ocorrer, não é justo que quem tanto arrecada como o porto de Santos, não tenha um olhar para famílias carentes e em condições tão insalubres.
Porto e cidade
A relação do porto com as cidades ainda é desigual, para se ter noção a travessia da cidade de Santos e Guarujá ainda é realizada por balsas e barcas, causando transtornos e grandes congestionamentos nas duas cidades, ou então por um longo percurso de 45 km por ligação seca, há anos se discute à ligação seca passando pelo canal do porto, um percurso de pouco mais de 800 metros, aparentemente sairá do papel.
São mais de 97 anos de discussão, o Governo Federal incluiu o túnel submerso às obras do PAC, Programa de Aceleração e Crescimento e a autoridade portuária já reservou recursos para execução da obra, há também a intenção do resgate da zona portuária do lado Santos, em parceria com a cidade e autoridade portuária vão reformar armazéns abandonados, com a intenção de atrair o turismo para a região.
Todo esse esforço também deveria se concentrar em investimentos no lado Guarujá, onde fica o sítio Conceiçãozinha, cercado pelo porto, mas infelizmente não vemos o mesmo empenho.
Texto escrito por Ivo Mendes
É ativista e militante há mais de 12 anos em pautas antirracistas e no combate às desigualdades sociais no Brasil. Retirou o medo do seu vocabulário, por isso é um sonhador por essência e entusiasta por sobrevivência. Formado em Gestão da Tecnologia da Informação, passou pela vida política da Baixada Santista e atualmente trabalha na área administrativa e integra a equipe de colunistas do Zero Águia.
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