top of page

“Minta, minta, minta, algo permanecerá”

Atualizado: 7 de mar


A frase que intitula o artigo é de Joseph Goebbels que foi Ministro do Esclarecimento Público e Propaganda durante o Terceiro Reich, Joseph afirmava que:


Joseph Goebbels
 “Antes, quando algo cair, quanto maior a mentira, mais as pessoas acreditarão”.

O tempo passou mas a sentença continua vigente e particularmente em relação ao Presidente da Argentina, Javier Milei que tanto nos debates presidenciais como nos anúncios feitos por seus ministros, fez o que disse que não ia fazer, ou seja, mentiu. 



No debate presidencial, Milei incorporou plenamente a visão da vice-presidente, Victoria Villarruel expressando que os crimes contra a humanidade eram “excessos”, tendo o mesmo argumento do genocida Jorge Rafael Videla. Expressar uma opinião sobre o pior sucesso na História Argentina não é brincadeira e tem que ser levada a sério.




Além disso, quando se pesquisa sobre as ideias do presidente argentino fica evidente que ele não tem um pensamento crítico; cada uma das ideias dele foram ideais ou opiniões de outras pessoas e coincidir -ou não- com outras está bem, o errado é falar como se as ideias, argumentos ou planos sejam exclusivos dele. Ele não dá o crédito ao outro, como se evidenciou nos plágios que ele fez relacionados ao Fundo Monetário Internacional (FMI) mas o plágio não se limitou a colunas de opinião ou livros, está presente até em sua autobiografia*.


A questão das mentiras foi mais além da esfera doméstica e durante a Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial em Davos de 2024, e elas podem ser vistas nas expressões de Mieli. A seguir destaco algumas frases na mesma ordem do discurso:


“Estamos aqui para dizer-lhes que as experiências coletivistas nunca são a solução para os problemas que afligem os cidadãos do mundo, mas, pelo contrário, são a sua causa. Acredite em mim, ninguém melhor do que nós argentinos para dar testemunhos destas duas questões."

Permitam-me discordar do presidente argentino e concordar com o argumento de Paulo Freire que expressou que “Ninguém se salva sozinho, ninguém salva ninguém, todos nós salvamos em comunidade”. Pensamento que anda de mãos dadas com o Papa Francisco que durante a pandemia disse que “Ninguém se salva sozinho”, refletindo que nenhuma solução próspera pode ocorrer a partir do individualismo.



Continuando, Milei afirmou que:


“Quando adotamos o modelo da liberdade, no ano de 1860, em 35 anos nos tornamos a primeira potência mundial.”

Porém, esqueceu de falar quais eram as condições da população nesse tempo. Os pontos mais importantes foram que a Argentina estava se organizando no nível estatal e o motor do seu crescimento econômico foram as exportações de produtos primários porém as receitas do Estado nunca conseguiram cobrir as suas despesas, pelo que o déficit fiscal era comum.


A emissão de dívida pública para cobrir a crescente despesa pública levou a um aumento da taxa de juros do sistema e a uma eventual queda da taxa de investimento do setor privado. Este efeito tornou-se mais pronunciado em tempos difíceis, quando os investidores preferiram a segurança dos títulos do Estado à rentabilidade na esfera privada. (ROCCHI, 200)


Em relação à seguinte frase:


“Agora, não só que o capitalismo gerou uma explosão de riqueza desde o momento em que foi adotado como sistema econômico, mas, se você analisar os dados, o que se observa é que o crescimento vem acelerando ao longo de todo o período.”

Seria bom para ele ler Noam Chomsky para compreender que o capitalismo produziu “uma escalada aparentemente interminável de guerras, catástrofes ambientais, níveis sem precedentes de desigualdade tanto na riqueza como nos rendimentos globais. E regimes autoritários cada vez mais repressivos." (CHOMSKY & WATERSTONE, 2021)


Com respeito ao Produto Interno Bruto (PIB), expressou que:


“Agora, quando se estuda o PIB per capita, desde o ano 1800 até hoje, o que se observa é que, após a Revolução Industrial, o PIB per capita mundial se multiplicou por mais de 15 vezes, gerando uma explosão de riqueza que tirou da pobreza 90 por cento da população mundial.”

Exatamente como ele fala, “agora, quando se estuda o PIB…” não se considera seus números como indicadores vitais para analisar o crescimento econômico de um país porque não leva em conta o que exatamente está sendo produzido ou qual é a qualidade do que é produzido; fazendo difícil comparar a produção entre diferentes períodos.


Por último, segundo Milei diz:


“A conclusão é óbvia: longe de ser a causa dos nossos problemas, o capitalismo de livre empresa, como sistema econômico, é a única ferramenta que temos para acabar com a fome, a pobreza e a indigência em todo o planeta. A evidência empírica é inquestionável … Por isso, como não há dúvida de que o capitalismo de livre mercado é superior em termos produtivos… Graças ao capitalismo de livre empresa, hoje, o mundo está no seu melhor. Nunca houve, em toda a história da humanidade, um momento de maior prosperidade do que o que vivemos hoje. O mundo de hoje é mais livre, mais rico, mais pacífico e mais próspero do que qualquer outro momento da nossa história. Isso é verdade para todos, mas em particular para aqueles países que são livres, onde respeitam a liberdade econômica e os direitos de propriedade dos indivíduos”. 

Pensando em suas palavras, uma forma de respeitar a liberdade e direitos dos indivíduos é vedar o congresso nacional, pressionar os governadores – anunciando cortes pela Nação – a votarem leis que nada tem a ver com necessidades e emergências, e reprimir cidadãos que manifestam o seu desacordo com os planos econômicos do presidente eleito?


Para finalizar, vou lembrar uma frase de Myriam Bregman que foi dita no debate presidencial, ela enfatizou os laços empresariais do economista ultraliberal expressando que: “Ele não é um leão, é um gatinho fofinho do poder econômico” (El País, 2023).


O que será que Bregman quis dizer? Disso vamos falar no próximo artigo, onde vamos também vamos repensar os conceitos tão falados por Milei: liberdade, poder econômico e direitos.






Texto escrito por Soledad Bravo

Membro da Rede de Cientistas Políticas. Além disso, tem uma extensa carreira na área acadêmica; foi bolsista da Organização dos Estados Americanos (OEA), Doutoranda em Ciência Política (UFPE), Magister Internacional em Gestão de ONGs, Gestão de Voluntariado e Cooperação Internacional (Centro UNESCO) e Lic. em Ciência Política.

Para encontrá-la pela rede procure por: @sooledadbravo






Revisão por Eliane Gomes

Edição por Felipe Bonsanto


 

Bibliografía:


Chomsky, N., & Waterstone, M. (2021). Las consecuencias del capitalismo. La fábrica de descontento y resistencia.

 

“Davos 2024: Discurso especial de Javier Milei, presidente de Argentina”, World Economic Forum, 19 de enero de 2023.         https://es.weforum.org/agenda/2024/01/davos-2024-discurso-especial-de-javier-milei-presidente-de-argentina/


"Javier Milei sale con vida del primer debate de candidatos presidenciales de Argentina", Diario El País, 2 de octubre de 2023.        https://elpais.com/argentina/2023-10-02/javier-milei-sale-con-vida-del-primer-debate-de-candidatos-presidenciales-de-argentina.html


Los múltiples plagios de Javier Milei en sus libros y columnas que Sergio Massa reflotó en el debate”, Interferencia, 14 de noviembre de 2023.      https://interferencia.cl/articulos/los-multiples-plagios-de-javier-milei-en-sus-libros-y-columnas-que-sergio-massa-refloto-en


Rocchi, F. (2000). El péndulo de la riqueza: la economía argentina en el período 1880-1916. Nueva historia argentina, 5, 15-69.





bottom of page